SEJA LIVRE, JESUS TE LIBERTOU

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Mario Persona

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sábado, 20 de fevereiro de 2010

Bom Caminho: em busca das veredas antigas

Imagem com Versculo ou citacao

Filhos

Greg Harris

Greg Harris

As 21 Regras desta Casa

14/02/2010

"O desafio é ser consistente de forma que tal disciplina, por fim, já não seja mais necessária."

Dons 15

Evangelismo

Mark Driscoll

Dons Espirituais: Evangelismo

31/01/2010

"O dom de evangelismo é a habilidade e o desejo de comunicar, corajosa e claramente, o evangelho de Jesus Cristo para que não-cristãos tornem-se cristãos."

Dons 14

Administração

Mark Driscoll

Dons Espirituais: Administração

16/01/2010

"A administração inclui a habilidade de organizar pessoas, coisas, informações, finanças, etc."

Ano Novo

Ajuda

Jonathan Edwards

Uma Oração para o Ano Novo

08/01/2010

Uma oração baseada nas 21 primeiras das 70 resoluções de Edwards.

Dons 13

Ajuda

Mark Driscoll

Dons Espirituais: Ajuda/Serviço

30/12/2009

"O dom de ajuda/serviço é a habilidade para trabalhar alegremente ao lado de outro e ajudar aquela pessoa a completar a tarefa que Deus lhes deu."

Dons 12

Paulo em Atenas

Mark Driscoll

Dons Espirituais: Ensino

20/12/2009

"O dom de ensino é a capacidade concedida por Deus de compreender e comunicar a verdade bíblica de forma clara e relevante para que haja compreensão e aplicação."

Dons 10

discernimento

Mark Driscoll

Dons Espirituais: Discernimento

06/12/2009

"...é a capacidade de rapidamente perceber se tais coisas como pessoas, eventos, ou crenças são de Deus ou de Satanás"

Sabbath

Calendário

John Piper

Lembra-te do dia de sábado, para o santificar - Parte 1

02/11/2009

"O descanso não deve ser um descanso sem nenhum propósito, mas um descanso centrado em Deus."

Dons 7

curar

Mark Driscoll

Dons Espirituais: CURAR

24/10/2009

"...a outro, dons de curar, pelo único Espírito;"

Dons 5

conhecimento

Mark Driscoll

Dons Espirituais: CONHECI- MENTO

08/10/2009

"A palavra de conhecimento é a capacidade de pesquisar, recordar, e fazer uso efetivo de uma variedade de informações em uma série de diferentes temas."

O Problema

Sproul

R.C. Sproul

O Que Quer Dizer o Termo "Pecado Original"?

26/09/2009

"Nós éramos originalmente inocentes, mas agora a raça foi mergulhada em um estado de corrupção."

Oração Bíblica

oração

Tim Keller

Oração Centrada no Reino

06/02/2010

"Precisamos aprender melhor como orar, arrepender-nos e suplicar a Deus como um povo."

Tragédia

haiti

Albert Mohler

Deus Odeia o Haiti?

17/01/2010

"Absolutamente tudo na tragédia do Haiti aponta para a nossa necessidade de redenção."

Idolatria

Ajuda

Tim Keller

Falsos Deuses

03/01/2010

"Qualquer coisa pode ser um ídolo."

Masculinidade

testosterona

Albert Mohler

Graças a Deus pela testos- terona? Confusão sobre masculi- nidade cristã

18/12/2009

"Virilidade cristã não tem nada a ver com bater no peito e celebrar a testosterona - tem a ver com apresentar-se e fazer o que homens cristãos de verdade fazem."

Dons 11

soldado

Mark Driscoll

Dons Espirituais: Apóstolos

12/12/2009

"Há muita confusão sobre o dom espiritual de apostolado porque muitas vezes há uma falha em distinguir o ofício de apóstolo do dom de apóstolo."

Sabbath

Adoração

John Piper

Lembra-te do dia de sábado, para o santificar - Parte 2 (final)

29/11/2009

"Aceite o presente de um dia de descanso por semana. Humilhe-se e acredite que você precisa disso."

Dons 9

milagres

Mark Driscoll

Dons Espirituais: Milagres

22/11/2009

"...é a habilidade para clamar a Deus para que Ele execute ações sobrenaturais que revelam o Seu poder"

Dons 8

pastor

Mark Driscoll

Dons Espirituais: Pastor / Aconse- lhamento Bíblico

07/11/2009

"Estas pessoas protegem, guiam, aconselham e discipulam outras pessoas."

Dons 6

fé

Mark Driscoll

Dons Espirituais: FÉ

17/10/2009

"...a outro, fé, pelo mesmo Espírito;"

Dons 4

Sabedoria

Mark Driscoll

Dons Espirituais: SABEDORIA

28/09/2009

"É a possibilidade de não apenas ver, mas também de aplicar os princípios da Palavra de Deus aos assuntos práticos da vida por meio do 'espírito de sabedoria'"

Descanso

Bunyan

George Offor

A Morte de John Bunyan

14/10/2009

"Ele suportou seus sofrimentos com toda a paciência e coragem que poderia se esperar de um homem assim."

Erro

Esnobe

Tim Challies

Hiper-calvinismo: Uma Breve Definição

04/10/2009

"Provavelmente a característica mais distintiva de um hiper-calvinista é uma absoluta falta de vontade de evangelizar, ou evangelizar sem estender um convite a aceitar e crer no Evangelho."

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Marcas de uma igreja saudável: Marca 9 - Liderança Bíblica na Igreja

Mark Dever

md011.jpg (14K) - Achando o rumo

Que tipo de liderança uma igreja saudável possui? Uma congregação, comprometida com Cristo, preparada para servir? Sim. Diáconos que são modelos de serviço nos assuntos da igreja? Sim. Um pastor que é fiel na pregação da Palavra de Deus? Sim. Mas biblicamente, há uma outra coisa que também faz parte da liderança de uma igreja saudável: presbíteros.

Como pastor, eu oro para que Cristo levante na nossa congregação homens cujos dons espirituais e cuidado pastoral indiquem que Deus os chamou a serem presbíteros ou bispos (as palavras são usadas indistintamente na Bíblia; veja por exemplo, em Atos 20). Eu oro para que Deus faça crescer e capacite tais discípulos para o trabalho de supervisão pastoral da nossa congregação e para o seu ensino. Se ficar claro que Deus concedeu dons a certo homem na igreja, e se, depois de muita oração, a igreja reconhece seus dons, então ele deveria ser escolhido como um presbítero.

Todas as igrejas tiveram indivíduos que executaram as funções de presbíteros, mesmo que lhes tenham chamado por outros nomes. O dois nomes usados pelo Novo Testamento para este ofício são episcopos (supervisor, bispo) e presbuteros (presbítero, ancião). Quando evangélicos ouvem a palavra "presbítero", muitos imediatamente pensam em "presbiteriano", contudo os primeiros congregacionalistas, no século XVI, ensinavam que o presbiterato era um dos ofícios em uma igreja neotestamentária. Presbíteros podiam ser encontrados nas igrejas batistas nos Estados Unidos ao longo do século XVIII e no século XIX. De fato, o primeiro presidente da Convenção Batista do Sul, W. B. Johnson, escreveu um tratado no qual ele pedia que a prática de ter uma pluralidade de presbíteros fosse reconhecida como bíblica e seguida em um número maior de igrejas batistas. O argumento de Johnson foi ignorado. Seja por desatenção para com a Bíblia, ou pela pressão da vida na fronteira onde as igrejas estavam crescendo a uma taxa surpreendente, a prática de cultivar tal liderança declinou. Mas a discussão em documentos batistas quanto a reavivar este ofício bíblico continuou. Até no início do século vinte, publicações batistas continuavam se referindo a líderes pelo título de "presbíteros".

"Mas biblicamente, há uma outra coisa que também faz parte da liderança de uma igreja saudável: presbíteros."

Batistas e presbiterianos tem tido duas diferenças básicas nas suas compreensões quanto aos presbíteros. Primeiro e fundamentalmente, batistas são congregacionalistas. Quer dizer, eles entendem que o discernimento final nos assuntos da igreja repousa não com os presbíteros em uma congregação (ou além dela, como no modelo presbiteriano), mas com a congregação como um todo. Então, batistas dão ênfase à natureza consensual de ação da igreja. Portanto, em uma igreja batista, os presbíteros e todas as outras comissões e comitês agem no que é, em última instância, uma capacidade aconselhadora para a congregação inteira.

Uma nota adicional se faz necessária sobre a autoridade da congregação reunida. Nada diferente da congregação local reunida é o tribunal final de apelação sob Cristo. Sempre de novo no Novo Testamento, nós achamos evidência do que parecia ser uma forma primitiva de congregacionalismo. Em Mateus 18 quando Jesus estava ensinando os Seus discípulos sobre como confrontar o irmão pecador, o tribunal final não é o grupo de presbíteros, nem um bispo ou um papa, nem um conselho ou uma convenção. O tribunal final é a congregação. Em Atos 6, os apóstolos entregaram a decisão quanto aos diáconos para a congregação.

Nas cartas de Paulo, também encontramos evidência desta suposição da responsabilidade final da congregação. Em 1 coríntios 5, Paulo não culpou o pastor, os presbíteros ou os diáconos, mas a congregação como um todo por tolerar o pecado. Em 2 Coríntios 2, Paulo refere-se ao que a maioria deles tinha feito disciplinando um membro errante. Em Galatás, Paulo conclamou as congregações para julgarem o ensino que eles estavam ouvindo. Em 2 Timóteo 4, Paulo não reprovou somente os falsos mestres, mas também aqueles que os pagavam para ensinar o que aqueles que tinham coceira nos ouvidos queriam ouvir. Os presbíteros lideram, mas eles assim fazem biblicamente e necessariamente dentro dos limites reconhecidos pela congregação.

"Então, batistas dão ênfase à natureza consensual de ação da igreja. Portanto, em uma igreja batista, os presbíteros e todas as outras comissões e comitês agem no que é, em última instância, uma capacidade aconselhadora para a congregação inteira."

A segunda discordância é quanto ao papel e responsabilidades dos presbíteros. Presbiterianos tenderam a dar ênfase à declaração de Paulo a Timóteo em 1 Timotéo 5:17, "Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino." A última frase, alguns argumentaram, claramente sugere que haviam anciões cujo trabalho principal não era pregar ou ensinar, mas governar ou reger. Esta é a origem da distinção entre os “presbíteros regentes” (presbíteros leigos) e “presbíteros docentes" (pastores) presbiterianos.

Mas "especialmente" (ou “com especialidade”) é uma tradução questionável da palavra malista que, neste contexto, fica melhor traduzida por "certamente" ou "particularmente”. Um pouco antes em 1 Timóteo 4:10, lê-se, "porquanto temos posto a nossa esperança no Deus vivo, Salvador de todos os homens, especialmente (malista) dos fiéis." Paulo parece estar indicando que tantas pessoas serão salvas sem crer quantas dirigirão os negócios da igreja sem pregar e ensinar: em outras palavras, nenhuma.

Batistas tenderam a dar ênfase ao caráter intercambiável dos termos "presbítero” (ou “ancião”), "bispo" (ou “supervisor”) e "pastor" no Novo Testamento, e mostraram que em 1 Timóteo 3:2, Paulo falou a Timóteo claramente que os anciões devem ser "aptos a ensinar." E ele escreveu a Tito que o presbítero deve ser "apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem" (Tito 1:9). Os batistas, portanto, freqüentemente negaram a conveniência de ter presbíteros que não são capazes de ensinar as Escrituras.

Porém, no que os batistas e os presbiterianos do século dezoito freqüentemente concordavam, era que deveria haver uma pluralidade de presbíteros em cada igreja local. Embora o Novo Testamento nunca sugira um número específico de presbíteros para uma congregação em particular, ele refere-se claramente a "presbíteros", no plural, nas igrejas locais (por exemplo, Atos 14:23; 16:4; 20:17; 21:18; Tito 1:5; Tiago 5:14). Minha própria experiência confirma para mim a utilidade de seguir a prática neotestamentária de ter, onde possível, mais presbíteros em uma igreja local do que simplesmente o solitário pastor, e de tê-los dentre as pessoas arraigadas na congregação. Esta prática é incomum entre as igrejas batistas hoje, mas há uma tendência crescente - e por uma boa razão. Foi necessário nas igrejas do Novo Testamento, e é necessário agora.

"Os presbíteros lideram, mas eles assim fazem biblicamente e necessariamente dentro dos limites reconhecidos pela congregação."

Isto não significa que o pastor não tem nenhum papel distintivo. Há muitas referências no Novo Testamento à pregação e pregadores que não se aplicariam a todos os presbíteros numa congregação. Assim, em Corinto, Paulo se entregou exclusivamente à pregação de uma forma que presbíteros leigos em uma congregação não poderiam (Atos 18:5; cf. 1 Coríntios 9:14; 1 Timóteo 4:13; 5:17). Pregadores pareciam ir expressamente a uma algum local para pregar (Romanos 10:14-15), apesar de aparentemente presbíteros já fazerem parte da comunidade (Tito 1:5). (Para mais informações sobre esta distinção, veja Uma Exibição da Glória de Deus - A Display of God’s Glory, [CCR: 2001].)

Entretanto, precisamos lembrar que o pregador, ou pastor, também é fundamentalmente um dos presbíteros da sua congregação. Isso significa que decisões que envolvem a igreja, mas que não requerem a atenção de todos os membros, não deveriam recair sobre o pastor apenas, mas sobre os presbíteros como um todo. Apesar de isso ser, às vezes, incômodo, traz os imensos benefícios de arredondar os dons do pastor, compensando alguns dos seus defeitos, complementando o seu julgamento, e criando apoio na congregação para as decisões, deixando os líderes menos expostos a críticas injustas. Também torna a liderança mais arraigada e permanente, e permite uma continuidade mais amadurecida. Também encoraja a igreja a assumir mais responsabilidade por sua própria espiritualidade e torna a igreja menos dependente dos seus empregados.

Muitas igrejas modernas têm uma tendência de confundir os presbíteros com a diretoria da igreja ou com os diáconos. Os diáconos, também, preenchem um ofício neotestamentário, fundamentado em Atos 6. Apesar de qualquer distinção absoluta entre os dois ofícios ser difícil, as preocupações dos diáconos são os detalhes práticos da vida da igreja: administração, manutenção, e o cuidado de membros da igreja com necessidades físicas. Em muitas igrejas hoje, os diáconos assumiram algum papel espiritual; mas a maior parte foi simplesmente deixada para o pastor. Seria benéfico para a igreja voltar a distinguir o papel de presbítero do de diácono.

O presbiterato é o ofício bíblico que eu exerço como pastor: Eu sou o principal presbítero pregador. Mas todos os presbíteros deveriam trabalhar juntos para a edificação da igreja, reunindo-se regularmente para orar e discutir, ou para formular recomendações para os diáconos ou para a igreja. Claramente, esta é uma idéia bíblica que tem grande valor prático. Se implementada em nossas igrejas, poderia ajudar imensamente os pastores removendo peso dos seus ombros e removendo até mesmo as suas próprias pequenas tiranias das suas igrejas. De fato, a prática de reconhecer leigos piedosos, perspicazes e fiéis como presbíteros é outra marca de uma igreja saudável.

Marcas de uma igreja saudável: Marca 8 - Cuidado em Promover o Discipulado Cristão e o Crescimento

Mark Dever

md010.jpg (12K) - Caminhada

Outra marca distintiva de uma igreja saudável é uma preocupação penetrante com o crescimento da igreja - não simplesmente com o crescimento numérico, mas com o crescimento pessoal dos membros. Algumas pessoas pensam que alguém pode ser um "bebê em Cristo" pela vida inteira. O crescimento é visto como um item opcional reservado para discípulos particularmente zelosos. Entretanto, crescimento é um sinal de vida. Árvores que crescem são árvores vivas, e animais que crescem são animais vivos. Crescimento envolve aumento e avanço. Em muitas áreas da nossa experiência do dia a dia, quando algo deixa de crescer, morre.

Paulo esperava que os coríntios crescessem na sua fé Cristã (2 Coríntios 10:15). Os efésios, ele esperava, cresceriam “naquele que é o Cabeça, Cristo" (Efésios 4:15; cf. Colossenses 1:10; 2 Tessalonicenses 1:3). Pedro exortou alguns cristãos primitivos para que desejassem "como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação" (1 Pedro 2:2). É tentador para os pastores reduzirem suas igrejas a estatísticas controláveis de freqüência, batismos, ofertas e membresia, nas quais o crescimento é tangível. Porém tais estatísticas ficam muito aquém do verdadeiro crescimento que Paulo descreve e que Deus deseja.

"Algumas pessoas pensam que alguém pode ser um "bebê em Cristo" pela vida inteira. O crescimento é visto como um item opcional reservado para discípulos particularmente zelosos."

No seu Treatise Concerning Religious Affections (Tratado Relativo ás Afeições Religiosas), Jonathan Edwards sugeriu que o verdadeiro crescimento no discipulado cristão não é, em última instância, mera excitação, uso crescente de linguagem religiosa, ou o conhecimento crescente das Escrituras. Não é nem mesmo um evidente acréscimo em alegria ou em amor ou em interesse pela igreja. Até mesmo o aumento no zelo e no louvor a Deus e a confiança da própria fé não são evidências infalíveis do verdadeiro crescimento cristão. O que é então? De acordo com Edwards, enquanto todas essas coisas podem ser evidências de um verdadeiro crescimento cristão, o único sinal observável certo é uma vida de santidade crescente, arraigada na abnegação cristã. A igreja deveria ser marcada por uma preocupação vital com este tipo de piedade crescente nas vidas de seus membros.

Como vimos na sétima marca, uma das conseqüências não intencionais da negligência da igreja com a disciplina é o aumento da dificuldade em ver discípulos crescendo. Em uma igreja indisciplinada, os exemplos não são claros e os modelos são confusos. Nenhum jardineiro planta intencionalmente ervas daninhas. Ervas daninhas são, por si mesmas, indesejáveis, e elas podem ter efeitos nocivos sobre as plantas ao redor. O plano de Deus para a igreja local não nos permite deixar que as ervas daninhas fujam ao controle.

Boas influências em uma comunidade de crentes podem ser ferramentas nas mãos de Deus para fazer o Seu povo crescer. Conforme o povo de Deus é edificado e cresce unido em santidade e no amor que se doa, deveria também melhorar sua habilidade de administrar a disciplina e encorajar o discipulado. A igreja tem a obrigação de ser um dos meios de Deus para o crescimento das pessoas na graça. Se, em vez disso, ela é um lugar onde só os pensamentos do pastor são ensinados, onde Deus é questionado mais do que adorado, onde o Evangelho é diluído e o evangelismo pervertido, onde a membresia da igreja é tornada sem sentido, e um culto mundano à personalidade é deixado crescer ao redor da pessoa do pastor, então dificilmente as pessoas podem esperar encontrar uma comunidade que é coesa ou edificante. Tal igreja certamente não glorificará a Deus.

"Como vimos na sétima marca, uma das conseqüências não intencionais da negligência da igreja com a disciplina é o aumento da dificuldade em ver discípulos crescendo."

Deus é glorificado por meio de igrejas que estão crescendo. Esse crescimento pode se manifestar de muitas formas diferentes: pelo aumento de pessoas chamadas para missões; por membros mais velhos que começam a sentir um senso renovado da sua responsabilidade no evangelismo; por meio de funerais a que os membros mais jovens da congregação comparecem simplesmente pelo amor que têm aos membros mais velhos; pelo aumento na oração, e pelo desejo por mais pregação; por reuniões da igreja caracterizadas por conversações genuinamente espirituais; pelo aumento nas ofertas, e por membros que ofertam mais sacrificialmente; por mais membros que compartilham o evangelho com outros; por pais que redescobrem a sua responsabilidade em educar seus filhos na fé. Esses são apenas alguns exemplos do tipo de crescimento na igreja pelo qual os cristãos oram e trabalham.

Quando vemos uma igreja que é composta por membros que crescem na semelhança com Cristo quem recebe o crédito ou a glória? "O crescimento veio de Deus. De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento." (1 Coríntios 3:6b -7; cf. Colossenses 2:19). Portanto a bênção final de Pedro para aqueles cristãos primitivos a quem ele escreveu era uma oração expressa no imperativo: "crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno. (2 Pedro 3:18)." Nós poderíamos pensar que nosso crescimento traria glória para nós mesmos. Mas Pedro sabia que não era assim. “Mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação. (1 Pedro 2:12)." Ele obviamente lembrou-se das palavras de Jesus: Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras” - e certamente aqui nós pensaríamos que seria natural cair na armadilha da auto-admiração, mas Jesus continuou - "e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus" (Mateus 5:16). Trabalhar para promover o discipulado cristão e o crescimento é outra marca de uma igreja saudável.

Marcas de uma igreja saudável: Marca 7 - Disciplina Eclesiástica Bíblica


Mark Dever


A sétima marca de uma igreja saudável é a prática regular da disciplina eclesiástica. Uma prática bíblica de disciplina eclesiástica dá significado a ser um membro de igreja. Embora tenha sido praticada pelas igrejas de forma generalizada desde os tempos de Cristo, nas últimas gerações a prática vem desaparecendo da vida regular da igreja evangélica.

Nós, humanos, fomos originalmente criados para carregar a imagem de Deus, para sermos testemunhas do caráter de Deus à Sua criação (Gênesis 1:27). Assim, não é nenhuma surpresa que ao longo do Velho Testamento, conforme Deus formava um povo para Si, Ele os instruísse em santidade, para que o caráter deles se aproximasse melhor do Seu (veja Levítico 19:2; Provérbios 24:1, 25). Essa era a base para corrigir e excluir alguns até mesmo da comunidade, no Antigo Testamento (como em Números 15:30-31). E é também a base para amoldar a igreja do Novo Testamento (veja 2 Coríntios 6:14-7:1; 13:2; 1 Timóteo 6:3-5; 2 Timóteo 3:1-5).

Entretanto, toda essa idéia parece ser muito negativa para as pessoas de hoje. Afinal de contas, nosso Senhor Jesus não proibiu o julgamento em Mateus 7:1? Certamente em certo sentido Jesus proibiu o julgamento em Mateus 7:1; mas naquele mesmo Evangelho, também muito claramente, Jesus nos conclama a repreender a outros por causa do pecado e até mesmo, em última instância, repreendê-los publicamente (Mateus 18:15-17; cf. Lucas 17:3). Portanto, seja o que for que Jesus pretendesse dizer proibindo o julgamento em Mateus 7:1, certamente Ele não pretendia lançar fora tudo o que está contido na palavra portuguesa "julgar".
"Não é nenhuma surpresa que devamos ser ensinados a julgar. Afinal de contas, se nós não podemos dizer como um cristão não deve viver, como poderemos dizer como ele ou ela deve viver?"

O próprio Deus é um Juiz. Ele o foi no Jardim do Éden, e nós permanecemos sob o seu justo juízo enquanto nos mantivermos em nossos pecados. No Antigo Testamento Deus julgou tanto nações como indivíduos e no Novo Testamento nós cristãos somos advertidos de que nossas obras serão julgadas (veja 1 Coríntios 3). Em amor Deus disciplina Seus filhos, e em ira Ele condenará os ímpios (veja Hebreus 12). É claro que, no último dia, Deus se revelará como Juiz definitivo (veja Apocalipse 20). Em todo esse julgamento, Deus nunca está errado, Ele é sempre justo (veja Josué 7; Mateus 23; Lucas 2; Atos 5; Romanos 9).

Para muitos, hoje, é surpreendente descobrir que Deus planeja que outros julguem também. Ao Estado é dada a responsabilidade de julgar (veja Romanos 13). Somos chamados a julgar a nós mesmos (veja 1 Coríntios 11:28; Hebreus 4; 2 Pedro 1:5). Também somos chamados a julgar uns aos outros na igreja (embora não do modo definitivo com que Deus julga). As palavras de Jesus em Mateus 18, de Paulo em 1 Coríntios 5-6, e muitas outras passagens claramente mostram que a igreja deve exercer julgamento internamente e que esse julgamento tem propósitos de redenção, não de vingança (Romanos 12:19). No caso do homem adúltero em Corinto e dos falsos mestres em Éfeso, Paulo disse que eles deveriam ser excluídos da igreja e deveriam ser entregues a Satanás de forma que eles pudessem ser melhor instruídos e suas almas pudessem ser salvas (veja 1 Coríntios 5; 1 Timóteo 1).

Não é nenhuma surpresa que devamos ser ensinados a julgar. Afinal de contas, se nós não podemos dizer como um cristão não deve viver, como poderemos dizer como ele ou ela deve viver? Uma das minhas preocupações em relação aos programas de discipulado de muitas igrejas é que eles estão como que vertendo água em baldes furados - toda a atenção se volta ao que é vertido, sem preocupação sobre como é recebido e mantido.

Um escritor do movimento de crescimento de igrejas resumiu recentemente a sua recomendação para ajudar uma igreja a crescer: "Abra a porta da frente e feche a porta dos fundos." Com isso ele quer dizer que nós deveríamos trabalhar para tornar a igreja mais acessível às pessoas e fazer um melhor trabalho de acompanhamento. As duas metas são boas. Entretanto, a maioria dos pastores de hoje já desejam ter igrejas com tais portas da frente abertas e portas dos fundos fechadas. Por outro lado, tentar seguir um modelo bíblico deveria nos conduzir a seguinte estratégia: "Feche a porta da frente e abra a porta dos fundos." Em outras palavras, torne mais difícil unir-se à igreja por um lado, e mais fácil ser excluído, por outro. Tais ações ajudarão a igreja a recuperar sua cativante e divinamente planejada distinção do mundo.
"Esta disciplina deveria se refletir primeiramente na maneira como nós, igrejas, aceitamos novos membros. Exigimos que aqueles que estão se tornando membros sejam conhecidos por nós como pessoas que estão vivendo vidas que honram a Cristo? Entendemos a seriedade do compromisso que nós estamos fazendo com eles e que eles estão fazendo conosco?"

Esta disciplina deveria se refletir primeiramente na maneira como nós, igrejas, aceitamos novos membros. Exigimos que aqueles que estão se tornando membros sejam conhecidos por nós como pessoas que estão vivendo vidas que honram a Cristo? Entendemos a seriedade do compromisso que nós estamos fazendo com eles e que eles estão fazendo conosco? Se nós formos mais cuidadosos quanto a como nós reconhecemos e recebemos novos membros, teremos menos chance de ter que praticar a disciplina corretiva depois.

É claro que qualquer tipo de disciplina eclesiástica pode ser mal feita. No Novo Testamento, somos ensinados a não julgar outros por motivos que nós mesmos imputamos a eles (veja Mateus 7:1), ou julgar uns aos outros em assuntos que não são essenciais (veja romanos 14 e 15). Esse assunto está repleto de problemas de aplicação pastoral, mas nós precisamos lembrar que tudo na vida cristã é difícil e sujeito a abusos. Nossas dificuldades não deveriam servir como desculpas para não haver a prática. Cada igreja local tem a responsabilidade de julgar a vida e os ensinamentos de seus líderes, e até mesmo de seus membros; particularmente na medida em que qualquer um deles possa comprometer o testemunho da igreja quanto ao Evangelho (veja Atos 17; 1 Coríntios 5; 1 Timóteo 3; Tiago 3:1; 2 Pedro 3; 2 João).

Disciplina eclesiástica bíblica é simplesmente obediência a Deus e uma simples confissão de que nós precisamos de ajuda. Seguem cinco razões positivas para tal disciplina corretiva na igreja. Seu propósito é positivo (1) para o indivíduo que está sendo disciplinado, (2) para outros cristãos na medida em que vêem o perigo do pecado, (3) para a saúde da igreja como um todo e (4) para o testemunho corporativo da igreja. E, acima de tudo, (5) nossa santidade deve refletir a santidade de Deus. Ser membro da igreja deveria significar alguma coisa, não para nosso orgulho, mas por causa do nome de Deus. Disciplina eclesiástica bíblica é outra marca de uma igreja saudável.

Marcas de uma igreja saudável: Marca 6 - Uma Compreensão Bíblica quanto à Membresia da Igreja


Mark Dever


Há um sentido em que o que nós conhecemos hoje como "membresia de igreja" não é bíblico. Não temos nenhum registro de um cristão do primeiro século que vivia, por exemplo, em Jerusalém Central e aí precisasse decidir se deveria se envolver com uma assembléia particular de cristãos em vez de alguma outra. Até onde podemos perceber, não havia troca-troca de igrejas porque só havia uma igreja em uma determinada comunidade. Nesse sentido, não sabemos de nenhum rol de membros de igreja no Novo Testamento. Mas existem listas de pessoas ligadas de alguma forma à igreja no Novo Testamento. Temos tanto as listas de viúvas sustentadas pela igreja (1 Timóteo 5) quanto os nomes escritos no Livro da Vida do Cordeiro (Filipenses 4:3; Apocalipse 21:27). E há passagens no Novo Testamento que apontam para definição e limites claros à membresia de uma igreja. As igrejas sabiam quem compunha o seu rol de membros. Por exemplo, as cartas de Paulo para a igreja de Corinto mostram que alguns indivíduos seriam excluídos (por exemplo, 1 Coríntios 5) e que alguns seriam incluídos (por exemplo, 2 Coríntios 2). Nesse segundo exemplo, Paulo menciona até mesmo uma "maioria" das pessoas (2 Coríntios 2:6) que são citadas como tendo infligido a “punição" de exclusão da igreja. Essa "maioria" só poderia estar se referindo a uma maioria do grupo das pessoas que foram reconhecidas como membros da igreja.

A prática da membresia de igreja entre cristãos desenvolveu-se como uma tentativa para nos ajudar a perceber um ao outro em responsabilidade e amor. Identificando-nos com uma igreja particular, permitimos que os pastores e demais membros daquela igreja local saibam que nós pretendemos manter um compromisso na freqüência, na oferta, na oração e no serviço. Nós ampliamos as expectativas de outros em relação a nós mesmos nessas áreas, e tornamos claro que estamos sob a responsabilidade desta igreja local. Nós asseguramos a igreja quanto ao nosso compromisso com Cristo ao servir com eles, e pedimos o compromisso deles quanto a nos servir em amor e nos encorajar em nosso discipulado.

Neste sentido, a membresia é uma idéia bíblica. Dentre outras coisas, procede do uso que Paulo faz da imagem do corpo para a igreja local. Procede de Cristo nos salvando por Sua graça e colocando-nos nas igrejas para servi-lO em amor enquanto servimos uns aos outros. Procede de nossas obrigações mútuas expressas nas passagens das Escrituras que falam sobre "juntos" e "uns aos outros". Tudo isso está encapsulado no pacto de uma igreja saudável.

Não deveria ser nenhuma surpresa que quando se traz a visão quanto ao evangelismo, conversão e Evangelho para mais para perto da Bíblia há implicações quanto à forma como se concebe a membresia de igreja. Quando isso ocorre começamos a ver a membresia menos como uma ligação frouxa eventualmente útil e mais como uma responsabilidade regular que envolve as vidas uns dos outros para o progresso do evangelho.
"Membros descompromissados confundem tanto os verdadeiros membros quanto os não-cristãos sobre o que significa ser cristão. E os membros "ativos" não fazem nenhum bem aos voluntariamente "inativos" quando lhes permitem permanecer como membros da igreja; porque a membresia é o endosso corporativo da igreja quanto à salvação de uma pessoa."

Não é nada incomum haver um abismo entre o rol de membros de uma igreja e o número de pessoas ativamente envolvidas. Imagine uma igreja de 3.000 membros com uma freqüência regular de apenas 600. Temo que, infelizmente, muitos pastores evangélicos hoje se orgulham mais da membresia declarada do que se incomodam com a baixa freqüência. De acordo com um recente estudo da Convenção Batista do Sul, isto é normal nas igrejas da denominação. A igreja batista do sul típica tem 233 membros e 70 pessoas no culto dominical matutino. Será que a nossa igreja está em melhor estado? Que congregações têm orçamentos que igualam – para não dizer excedem - 10% das rendas anuais combinadas dos seus membros?

Com exceção dos casos em que há limitações físicas que impedem a freqüência ou problemas financeiros que impedem a oferta, esta situação não sugere que a membresia vem sendo apresentada como não necessariamente requerendo envolvimento? Afinal o que este número de membros significa? Números escritos podem tornar-se ídolos tão facilmente quanto imagens esculpidas - talvez até mais facilmente. Entretanto será Deus que um dia avaliará nossas vidas, e Ele verificará o peso do nosso trabalho, creio eu, em vez de contar nossos números. Se a igreja é um edifício, então nós devemos ser tijolos nele; se a igreja é um corpo, então nós somos seus membros; se a igreja é a família da fé, presume-se que nós fazemos parte dessa família. Ovelhas permanecem no rebanho, e ramos na videira. Biblicamente, se uma pessoa é cristã ela precisa ser membro de uma igreja. Deixando os aspectos particulares de lado - se o rol de membros é mantido em fichários ou em discos de computador – o certo é que não devemos deixar de congregar-nos (Hebreus 10:25). Esta condição de membro não é um simples registro de uma declaração que fizemos uma vez no passado ou o apego a um lugar familiar. Deve ser o reflexo de um compromisso vivo, ou então é inútil e até mesmo pior que inútil: é uma condição perigosa.

Membros descompromissados confundem tanto os verdadeiros membros quanto os não-cristãos sobre o que significa ser cristão. E os membros "ativos" não fazem nenhum bem aos voluntariamente "inativos" quando lhes permitem permanecer como membros da igreja; porque a membresia é o endosso corporativo da igreja quanto à salvação de uma pessoa. Mais uma vez, isto deve ser claramente entendido: a membresia em uma igreja é o testemunho corporativo daquela igreja quanto à salvação do membro individual. Entretanto, como pode uma congregação testemunhar honestamente que alguém invisível para ela está correndo a corrida com fidelidade? Se membros deixaram nossa companhia e não foram para alguma outra igreja bíblica, que evidência nós podemos fornecer de que eles alguma vez fizeram parte de nós? Não necessariamente nós sabemos se tais pessoas descompromissadas são ou não cristãs; nós simplesmente não podemos afirmar que elas são. Nós não precisamos lhes dizer que nós sabemos que elas vão para Inferno, nós só não podemos lhes dizer que nós sabemos que eles vão para o Céu.
"Jamais deveríamos permitir às pessoas permanecerem no rol de membros de nossas igrejas por razões sentimentais. Biblicamente falando, tal membresia não é membresia alguma."

Para que uma igreja pratique uma membresia eclesiástica bíblica não é preciso perfeição, mas honestidade. Não pede decisões nuas e cruas, mas um verdadeiro discipulado. Não é composto somente de experiências individuais, mas de afirmações corporativas daqueles que estão em aliança com Deus e uns com os outros. Pessoalmente, eu espero ver os números da membresia da igreja em que sirvo tornando-se mais significativos, de tal forma que todos os que são membros de nome tornem-se membros de verdade. Para muitos, isto significou ter seus nomes removidos de nosso rol (mas não de nossos corações). Para outros, significou um compromisso renovado com a vida de nossa igreja. Novos membros estão sendo instruídos na fé e na vida de nossa igreja. Muitos de nossos membros antigos precisam de instrução semelhante e de encorajamento. Conforme fomos nos tornando a Igreja Batista saudável que éramos historicamente, nossa freqüência voltou a exceder o número de membros mais uma vez. Certamente este deveria ser o seu desejo para a sua igreja também.

A recuperação de uma cuidadosa de membresia de igreja trará muitos benefícios. Tornará o nosso testemunho aos não-cristãos mais claro. Também ficará mais difícil para a ovelha mais fraca vaguear longe do aprisco, enquanto ainda se considera ovelha. Auxiliará a dar forma e foco ao discipulado de cristãos mais maduros. Ajudará nossos líderes eclesiásticos a saberem com mais precisão por quem eles são responsáveis. E em tudo isso, Deus será glorificado.

Ore para que a o rol de membros das igrejas passe a ser algo mais do que é atualmente, de forma que nós possamos conhecer melhor por quem nós somos responsáveis, para possamos orar por eles, encorajá-los e desafiá-los. Jamais deveríamos permitir às pessoas permanecerem no rol de membros de nossas igrejas por razões sentimentais. Biblicamente falando, tal membresia não é membresia alguma. No pacto de nossa igreja nós nos comprometemos a "Caso nos mudemos deste lugar para outro, iremos procurar o mais rápido possível alguma outra igreja onde possamos colocar em prática o espírito deste pacto e os princípios da Palavra de Deus." Esse compromisso é parte integrante de um discipulado saudável, particularmente em nossos dias altamente transientes.

Ser membro de uma igreja significa ser incorporado de forma prática no corpo de Cristo. Significa viajarmos juntos como estrangeiros e peregrinos neste mundo enquanto caminhamos rumo ao nosso lar celestial. Certamente outra marca de uma igreja saudável é uma compreensão bíblica quanto à membresia de igreja.

Marcas de uma igreja saudável: Marca 5 - Uma Compreensão Bíblica quanto ao Evangelismo




Revisando, consideramos até agora entre as marcas que caracterizam uma igreja saudável: a pregação expositiva, a teologia bíblica, uma compreensão bíblica do evangelho e da conversão. Uma forma de mensurar o quão importantes estas coisas são é considerar quais são as conseqüências para as congregações que as perdem. Os sermões podem facilmente tornar-se repetições de verdades há muito conhecidas. O cristianismo pode tornar-se indistinguível da cultura secular circunvizinha. O evangelho pode ser transformado em pouco mais do que auto-ajuda espiritual. A conversão pode-se degenerar de um ato de Deus a uma mera decisão humana. Mas tais congregações - com pregação superficial, pensamento secular, e um evangelho egocêntrico que encorajam pouco mais que uma única confissão verbal de Cristo (freqüentemente distorcendo Romanos 10:9) - não têm como proclamar adequadamente as tremendas novas da salvação em Cristo.

Para todos os membros de uma igreja, mas particularmente para os líderes que têm o privilégio e a responsabilidade de ensinar, uma compreensão bíblica do evangelismo é crucial. É evidente que a forma como alguém compartilha o evangelho está intimamente ligada à forma como essa pessoa entende o evangelho. Se sua mente foi moldada pela Bíblia quanto a Deus e o evangelho, quanto à necessidade humana e a conversão, então um entendimento correto sobre o evangelismo seguirá naturalmente. Nós deveríamos estar mais preocupados em conhecer e ensinar o próprio evangelho do que simplesmente tentar ensinar às pessoas métodos e estratégias para compartilhá-lo.
"Nós deveríamos estar mais preocupados em conhecer e ensinar o próprio evangelho do que simplesmente tentar ensinar às pessoas métodos e estratégias para compartilhá-lo."

Biblicamente, evangelismo é apresentar abertamente as boas novas cofiando em Deus para converter as pessoas (veja Atos 16:14). "Ao SENHOR pertence a salvação" (Jonas 2:9; cf. João 1:12-13). Qualquer tentativa nossa de forçar nascimentos espirituais será tão efetiva quanto Ezequiel tentando costurar os ossos secos, ou Nicodemos tentando dar à luz a si mesmo. E o resultado será semelhante.

Se a conversão for entendida como apenas um compromisso sincero feito uma única vez, então nós devemos conduzir todas as pessoas àquele ponto de confissão verbal e de compromisso por todos os meios que pudermos utilizar. Biblicamente, entretanto, ainda que seja correto importar-se, conclamar, e persuadir, nosso principal dever é ser fiel à obrigação que temos diante de Deus que é de apresentar as mesmas Boas Novas que Ele nos deu. Deus produzirá conversões a partir da nossa apresentação destas Boas Novas (veja João 1:13; Atos 18:9-10).

É encorajador como novos cristãos parecem freqüentemente ter uma consciência inata da natureza graciosa da sua salvação. Provavelmente você ouviu testemunhos, até mesmo nas últimas semanas ou meses, que o lembram que a conversão é obra de Deus. “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie." (Efésios 2:8-9)
"Disciplina eclesiástica bíblica faz parte do evangelismo da igreja."

Se a membresia de uma igreja for visivelmente maior que sua freqüência, deve-se perguntar: Esta igreja tem uma compreensão bíblica da conversão? Além disso, deveríamos perguntar que tipo de evangelismo foi praticado que resultou em um número tão grande de pessoas não envolvidas na vida da igreja, e ainda considerando-se seriamente a membresia deles como uma boa evidência de salvação? A igreja contestou essa situação de alguma forma, ou pareceu perdoar esta situação através de um conveniente silêncio? Disciplina eclesiástica bíblica faz parte do evangelismo da igreja.

Em meu próprio evangelismo, eu procuro transmitir três coisas às pessoas sobre a decisão que eles têm que tomar sobre o Evangelho:

• primeiro, a decisão é custosa (por isso deve ser considerada cuidadosamente, veja Lucas 9:62);
• segundo, a decisão é urgente (por isso deve ser tomada, veja João 3:18, 36);
• terceiro, a decisão vale a pena (por isso deveria ser tomada, veja João 10:10).

Este é o equilíbrio que nós deveríamos nos esforçar para ter em nosso evangelismo junto à nossa família e nossos amigos. Este é o equilíbrio que nós deveríamos nos esforçar para ter em nosso evangelismo na igreja como um todo. Há uma série de recursos impressos excelentes sobre evangelismo.

Para considerar a conexão íntima entre a nossa compreensão do evangelho e os métodos evangelísticos que usamos, recomendo o livro de Will Metzger: Tell the Truth (Diga a Verdade) da Inter-Varsity Press, e os livros de Iain Murray: The Invitation System (O Sistema de Apelo) e Revival and Revivalism (Reavivamento e Reavivalismo) da Banner of Truth Trust.

Portanto, outra marca de uma igreja saudável é uma compreensão bíblica e prática do evangelismo. O único verdadeiro crescimento é o crescimento que vem de Deus.

Marcas de uma igreja saudável: Marca 4 - Uma Compreensão Bíblica quanto à Conversão


Na primeira reunião da nossa igreja, em 1878, nós adotamos uma declaração de fé. Era uma versão fortalecida da Confissão de New Hampshire de 1833. Esta confissão tornou-se a base para a Baptist Faith and Message (“Fé e Mensagem Batista”) adotada pela Convenção Batista do Sul em 1925 e novamente, em uma versão revisada e enfraquecida, em 1963. Em nossa declaração de fé, o Artigo VIII diz o seguinte:

Nós cremos que o Arrependimento e a Fé são deveres sagrados, e também graças inseparáveis, forjadas em nossas almas pelo regenerador Espírito de Deus; pelo qual tendo sido profundamente convencidos de nossa culpa, perigo e desamparo, e do caminho da salvação por Cristo, nós nos voltamos a Deus com sincera contrição, confissão, e súplica por misericórdia; recebendo simultaneamente de todo coração o Senhor Jesus Cristo como nosso Profeta, Sacerdote e Rei, e confiando somente nEle como o único e todo suficiente Salvador.

Note o que esta declaração diz sobre nossa conversão, nossa guinada na vida. Nós nos voltamos porque estamos "profundamente convencidos de nossa culpa, perigo e desamparo, e do caminho da salvação por Cristo". E como essa guinada, que é composta de arrependimento e fé, acontece? É "forjada em nossas almas pelo regenerador Espírito de Deus". A Declaração cita então dois textos bíblicos para apoiar esta idéia: Atos 11:18: " E, ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida." e Efésios 2:8, " Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus". Se a nossa conversão for entendida basicamente como algo que nós fazemos a nós mesmos em vez de algo que Deus faz em nós, então entendemos tudo errado. A conversão certamente inclui a nossa ação, nós temos que fazer um compromisso sincero, uma decisão auto-consciente. Mesmo assim, conversão é muito mais que isso. A Bíblia claramente ensina que nós não estamos todos buscando a Deus, sendo que alguns acharam o caminho, enquanto outros ainda estão procurando. Pelo contrário, ela nos apresenta como pessoas que precisam ter seu coração substituído, sua mente transformada, seu espírito vivificado. Nada disso nós podemos fazer. Podemos assumir um compromisso, mas precisamos ser salvos. A mudança que cada pessoa necessita, independentemente de como parecemos ser exteriormente, é tão radical, tão próxima do âmago de cada um de nós, que só Deus pode executá-la. Nós precisamos de Deus para nos converter.
"A mudança que cada pessoa necessita, independentemente de como parecemos ser exteriormente, é tão radical, tão próxima do âmago de cada um de nós, que só Deus pode executá-la. Nós precisamos de Deus para nos converter."

Lembro-me de uma história de Spurgeon em que ele conta como ele estava entrando em Londres quando um homem bêbado aproximou-se dele, apoiou-se em poste próximo e disse, "Ei, Sr. Spurgeon, eu sou um dos seus convertidos!" Ao que Spurgeon respondeu: "Você deve mesmo ser um dos meus - certamente você não é um dos convertidos do Senhor!"

Uma conseqüência de compreender mal o ensino bíblico sobre a conversão pode bem ser que as igrejas evangélicas estão cheias de pessoas que fizeram compromissos sinceros em certo ponto das suas vidas, mas que evidentemente não experimentaram a mudança radical que a Bíblia apresenta como conversão. De acordo com um recente estudo da Convenção Batista do Sul, os batistas do sul (a minha própria denominação) têm uma taxa de divórcio que realmente supera a média nacional na América. A causa de tal “testemunho às avessas” entre os que são considerados seguidores de Cristo deve ser, pelo menos em parte, uma pregação não-bíblica sobre a conversão.

Certamente a conversão não precisa ser uma experiência emocionalmente acalorada, mas precisa ser provada pelo seu fruto para ver se é de fato o que a Bíblia considera verdadeira conversão. Entender a apresentação bíblica do que é conversão é uma das marcas de uma igreja saudável.

Marcas de uma igreja saudável: Marca 3 - Uma Compreensão Bíblica quanto às Boas Novas


Mark Dever


É particularmente importante que se tenha uma teologia bíblica em uma área especial da vida da igreja: a nossa compreensão a respeito das boas novas de Jesus Cristo, o evangelho. O evangelho é o coração do cristianismo, e por isso deveria ser o coração da nossa fé. Todos nós como cristãos deveríamos orar para que nós nos preocupássemos mais com as maravilhosas boas novas da salvação em Cristo do que com qualquer outra coisa na vida da igreja. Uma igreja saudável está repleta de pessoas que têm um coração voltado para o evangelho, e ter um coração voltado para o evangelho significa ter um coração voltado para a verdade: para a apresentação de Deus a respeito dEle mesmo, para a nossa necessidade, para a provisão de Cristo, e para a nossa responsabilidade.
"O evangelho é o coração do cristianismo, e por isso deveria ser o coração da nossa fé."

Quando apresento o evangelho a alguém, eu tento me lembrar de quatro pontos: Deus, o homem, Cristo e a resposta. Eu me pergunto: Compartilhei com esta pessoa a verdade sobre nosso Santo Deus e Soberano Criador? Deixei claro que nós, como seres humanos, somos uma estranha mistura: criaturas criadas à imagem de Deus e no entanto decaídas, pecadoras e separadas dEle? A pessoa com quem estou falando entende quem é Cristo - o Deus-Homem, o único mediador entre Deus e o homem, nosso substituto e Senhor ressurreto? E finalmente, mesmo que eu tenha compartilhado tudo isso com ele, será que ele entendeu que precisa responder ao evangelho, que ele tem que acreditar nesta mensagem e assim abandonar sua vida de egocentrismo e pecado?

Apresentar o evangelho como um aditivo para dar aos não-cristãos algo que naturalmente já desejam (alegria, paz, felicidade, realização, auto-estima, amor) é parcialmente verdadeiro, mas só parcialmente verdadeiro. Como J. I. Packer diz, "uma meia-verdade disfarçada em verdade inteira torna-se uma mentira completa". Fundamentalmente, todo mundo precisa de perdão. Nós precisamos de vida espiritual. Apresentar o evangelho menos radicalmente do que isso é pedir falsas conversões e uma membresia de igreja irrelevante. Tanto uma coisa como a outra tornam a evangelização do mundo ao nosso redor ainda mais difícil.
"A suprema acusação que você pode trazer contra uma igreja. . . é que aquela igreja tem pouca paixão e compaixão pelas almas humanas."

Nossos membros de igreja espalhados pelas casas, escritórios e vizinhanças vão, neste mesmo dia, entrar em contato com muito mais não-cristãos, por muito mais tempo, do que eles gastarão com cristãos em um domingo qualquer. Cada um de nós possui tremendas novas de salvação em Cristo. Não troquemos isso por qualquer outra coisa. E compartilhemos isso hoje! George W. Truett, grande líder Cristão da geração passada e pastor de Primeira Igreja Batista em Dallas, Texas, disse:

A suprema acusação que você pode trazer contra uma igreja. . . é que aquela igreja tem pouca paixão e compaixão pelas almas humanas. Uma igreja não é nada melhor que um clube ético se sua compaixão pelas almas perdidas não é transbordante, e se ela não sai para tentar levar almas perdidas ao conhecimento de Jesus Cristo.

Uma igreja saudável conhece o evangelho, e uma igreja saudável o compartilha

Marcas de uma igreja saudável: Marca 2 - Teologia Bíbli

Mark Dever

A pregação expositiva é importante para a saúde de uma igreja. Entretanto, todo método, por melhor que seja, está sujeito a abuso e, portanto deve estar aberto a ser testado. Em nossas igrejas, deveríamos nos preocupar não só em como somos ensinados, mas com o que somos ensinados. Deveríamos apreciar o caráter são, particularmente em nossa compreensão do Deus bíblico e dos seus caminhos para conosco.

"Sanidade" é uma palavra antiquada. Nas cartas pastorais de Paulo a Timóteo e a Tito, "são" significa confiável, preciso ou fiel. Em sua raiz etimológica é uma figura do mundo médico que significa inteiro ou saudável. Lemos em 1 Timóteo 1 que a sã doutrina é amoldada pelo evangelho e que ela se opõe à impiedade e ao pecado. Ainda mais claramente, em 1 Timóteo 6:3, Paulo contrasta as "falsas doutrinas" com as "sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e. . . o ensino segundo a piedade". Assim, na sua segunda carta a Timóteo, Paulo exorta Timóteo a manter “o padrão das sãs palavras que de mim ouviste” (II Timóteo 1:13). Paulo adverte Timóteo de que "haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos” (II Timóteo 4:3).
"Se nós fôssemos expor aqui tudo o que constitui sã doutrina, teríamos que reproduzir a Bíblia inteira."

Quando Paulo escreveu a outro jovem pastor – Tito - ele tinha preocupações semelhantes. Quem quer que Tito designasse como um presbítero, diz Paulo, teria que ser “apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem” (Tito 1:9). Paulo insta Tito a reprovar falsos mestres “para que sejam sadios na fé” (Tito 1:13). E também ordena a Tito: "Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina" (Tito 2:1).

Se nós fôssemos expor aqui tudo o que constitui sã doutrina, teríamos que reproduzir a Bíblia inteira. Mas, na prática, toda igreja decide quais são os assuntos em que precisa haver total acordo, quais admitem limitada discordância, e em quais pode haver total liberdade.

Na igreja em que ministro, em Washington DC, nós definimos que qualquer pessoa que deseje ser membro deve acreditar na salvação pela obra de Jesus Cristo apenas. Também confessamos as mesmas (ou bastante parecidas) convicções quanto ao batismo do crente e ao governo da igreja. Uniformidade nestes dois pontos não é essencial à salvação, mas acordo neles é útil na prática e saudável para a vida da igreja.
"Para que possamos aprender a sã doutrina da Bíblia, nós precisamos encarar doutrinas que podem ser difíceis, ou até mesmo potencialmente divisionistas, mas que são fundamentais para compreendermos o trabalho de Deus entre nós."

Pode-se permitir alguma discordância sobre assuntos que não parecem ser necessários à salvação, nem à vida prática da igreja. Assim, por exemplo, apesar de todos nós concordamos que Cristo voltará, não ficamos surpresos ao perceber que há discordância entre nós quanto ao momento certo do Seu retorno. Pode-se desfrutar de total liberdade em assuntos ainda menos centrais ou de pouca clareza, como a validade da resistência armada, ou a autoria do livro de Hebreus.

Em tudo isso, o princípio deve estar claro: quanto mais próximos chegarmos ao coração da nossa fé, mais devemos esperar ver nossa unidade expressa em um entendimento compartilhado dessa fé. A igreja primitiva colocou este princípio da seguinte forma: no essencial, unidade; no não essencial, diversidade; e em tudo amor.

O ensino saudável inclui um compromisso claro com doutrinas freqüentemente negligenciadas, porém claramente bíblicas. Para que possamos aprender a sã doutrina da Bíblia, nós precisamos encarar doutrinas que podem ser difíceis, ou até mesmo potencialmente divisionistas, mas que são fundamentais para compreendermos o trabalho de Deus entre nós. Por exemplo, a doutrina bíblica da eleição é freqüentemente evitada por ser considerada muito complexa, ou muito confusa. Seja como for, é inegável que esta doutrina é bíblica, e que é importante. Enquanto possa ter implicações que nós não entendemos plenamente, não é algo pequeno considerar que nossa salvação no final das contas procede de Deus em vez de nós mesmos. Outras perguntas importantes cujas respostas bíblicas também vêm sendo negligenciadas:

• Pessoas são basicamente ruins ou boas? Elas precisam tão somente de encorajamento e de um aumento de auto-estima, ou elas precisam de perdão e nova vida?

• O que Jesus Cristo fez morrendo na cruz? Ele tornou possível uma opção, ou Ele foi nosso substituto?

• O que acontece quando alguém se torna um cristão?

• Se nós somos cristãos, podemos estar seguros de que Deus continuará cuidando de nós? Neste caso, o Seu cuidado contínuo baseia-se em nossa fidelidade, ou na dEle?

Todas estas perguntas não são simplesmente questões para teólogos eruditos ou para jovens estudantes de seminário. Elas são importantes para todo cristão. Aqueles de nós que são pastores sabem quão diferentemente nós pastorearíamos nosso povo se nossa resposta a qualquer uma destas perguntas fosse alterada. Fidelidade às Escrituras exige que nós falemos sobre estes assuntos com clareza e autoridade.
"Designar como líder uma pessoa que duvida da soberania de Deus ou que entende mal o ensino bíblico sobre esses assuntos é colocar como exemplo uma pessoa que pode estar muito pouco disposta a confiar em Deus."

Nosso entendimento do que a Bíblia ensina a respeito de Deus é crucial. O Deus Bíblico é Criador e Senhor; e ainda assim Sua soberania às vezes é negada até mesmo dentro da igreja. Cristãos confessos que resistem à idéia da soberania de Deus na criação ou na salvação estão, na verdade, brincando com um paganismo piedoso. Muitos cristãos têm questionamentos honestos sobre a soberania de Deus, mas uma negação contínua, tenaz, da soberania de Deus deveria nos deixar preocupados. Batizar uma pessoa assim, pode significar o batismo de um coração que ainda é de algum modo incrédulo. Admitir tal pessoa na membresia significa tratá-la como se ela confiasse em Deus, quando na verdade ela não confia.

Por mais perigosa que tal resistência seja em um cristão qualquer, ela é ainda mais perigosa no líder de uma congregação. Designar como líder uma pessoa que duvida da soberania de Deus ou que entende mal o ensino bíblico sobre esses assuntos é colocar como exemplo uma pessoa que pode estar muito pouco disposta a confiar em Deus. Tal indicação está fadada a ser um forte obstáculo para a igreja.

Atualmente a nossa cultura freqüentemente nos encoraja a transformarmos o evangelismo em propaganda e explica a obra do Espírito em termos de marketing. O próprio Deus às vezes é moldado à imagem do homem. Em tempos assim, uma igreja saudável deve ter um cuidado especial em orar por líderes que tenham uma compreensão bíblica e experimental da soberania de Deus e um compromisso com a sã doutrina, em sua absoluta glória bíblica. Uma igreja saudável é marcada pela pregação expositiva e por uma teologia bíblica.

Marcas de uma igreja saudável: Marca 1 - Pregação Expositiva


Mark Dever
Paulo pregando em Tessalônica

O ponto para começar a falar sobre as marcas da igreja saudável é onde Deus começa conosco – o modo como Ele fala conosco. Foi por aí que a nossa própria saúde espiritual veio, e é por esse caminho que a saúde de nossas igrejas virá também. Especialmente importante para qualquer um que esteja na liderança de uma igreja, mas particularmente para o pastor, é um compromisso com a pregação expositiva, um dos mais antigos métodos de pregação. Trata-se da pregação cujo objetivo é expor o que é dito em uma passagem particular da Bíblia, explicando cuidadosamente seu significado e aplicando-o à congregação (veja Neemias 8:8). Existem, evidentemente, muitos outros tipos de pregação. Sermões tópicos, por exemplo, coletam tudo o que a Bíblia ensina sobre um único assunto, como a oração ou a contribuição. A pregação biográfica aborda a vida de alguém na Bíblia e retrata-a como uma demonstração da graça de Deus e como um exemplo de esperança e fidelidade. Mas a pregação expositiva é algo diferente - uma explicação e aplicação de uma porção particular da Palavra de Deus.
"(...) os pregadores cristãos de hoje têm autoridade para falar da parte de Deus somente se proclamarem as palavras dEle."

A pregação expositiva presume uma convicção na autoridade da Bíblia, mas é algo mais. Um compromisso com a pregação expositiva é um compromisso de ouvir a Palavra de Deus. Assim como os profetas do Antigo Testamento e os apóstolos do Novo Testamento não receberam apenas uma ordem para ir e falar, mas uma mensagem específica, os pregadores cristãos de hoje têm autoridade para falar da parte de Deus somente se proclamarem as palavras dEle. Assim, a autoridade do pregador expositivo começa e termina com as Escrituras. Às vezes as pessoas podem confundir pregação expositiva com o estilo de um pregador expositivo predileto, mas não é fundamentalmente uma questão de estilo. Como outros já observaram a pregação expositiva não é tanto sobre como nós dizemos o que dizemos, mas sobre como nós decidimos o que dizer. Não é marcada por uma forma particular, mas por um conteúdo bíblico.

Pode-se aceitar alegremente a autoridade da Palavra de Deus e até mesmo professar a convicção na inerrância da Bíblia; ainda assim se na prática (propositalmente ou não) alguém não prega expositivamente, nunca pregará além do que já sabe. Um pregador pode tomar um trecho das Escrituras e exortar a congregação em um tópico que é importante sem que ele realmente pregue o ponto abordado na passagem. Quando isso acontece, o pregador e a congregação só ouvem nas Escrituras o que eles já sabiam.
"Como outros já observaram a pregação expositiva não é tanto sobre como nós dizemos o que dizemos, mas sobre como nós decidimos o que dizer."

Em contrapartida, quando pregamos uma passagem das Escrituras no contexto, expositivamente - tomando o ponto da passagem como o ponto da mensagem - nós ouvimos de Deus coisas que nós não pretendíamos ouvir quando começamos. Desde a chamada inicial ao arrependimento até a área de nossas vidas em que o Espírito nos condenou recentemente, a nossa salvação inteira consiste em ouvir a Deus de modos que nós, antes de ouvi-lO, nunca teríamos adivinhado. Esta submissão extremamente prática à Palavra de Deus deve ser evidente no ministério de um pregador. Não se deixe enganar: em última instância, é responsabilidade da congregação assegurar que as coisas sejam assim (observe a responsabilidade que Jesus põe sobre a congregação em Mateus 18, ou Paulo em 2 Timóteo 4). Uma igreja jamais pode colocar como supervisor espiritual do rebanho uma pessoa que não demonstra na prática um compromisso claro em ouvir e ensinar a Palavra de Deus. Agir assim é impedir inevitavelmente o crescimento da igreja, praticamente encorajando-a a só crescer até o nível do pastor. Se assim for, a igreja será conformada lentamente à mente dele, em vez de ser conformada à mente de Deus.

O povo de Deus sempre foi criado pela Palavra de Deus. Da criação em Gênesis 1 até a chamada de Abraão em Gênesis 12, da visão do vale dos ossos secos em Ezequiel 37 até a vinda da Palavra Viva, Deus sempre criou o Seu povo através da Sua Palavra. Como Paulo escreveu aos romanos, “a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (10:17). Ou, como ele escreveu aos coríntios, "Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação" (1 Cor. 1:21).
"Uma igreja construída sobre a música – seja qual for o estilo - é uma igreja construída sobre a areia."

A pregação expositiva sadia freqüentemente é o manancial de crescimento em uma igreja. Na experiência de Martinho Lutero, tal atenção cuidadosa para com a Palavra de Deus foi o princípio da reforma. Nós também precisamos estar comprometidos em sermos igrejas que sempre estão sendo reformadas de acordo com a Palavra de Deus.

Certa vez, quando eu estava ensinando em um seminário sobre puritanismo em uma igreja de Londres, eu mencionei que os sermões puritanos às vezes duravam duas horas. Diante disso, uma pessoa perguntou, "Quanto tempo sobrava para a adoração?" A suposição era de que ouvir a palavra de Deus pregada não constituía adoração. Eu respondi que muitos cristãos protestantes ingleses teriam considerado a possibilidade de ouvir a palavra de Deus no seu próprio idioma e de responder a ela nas suas vidas como a parte essencial da sua adoração. Se eles teriam tempo para cantar juntos seria comparativamente de pouca importância.

Nossas igrejas têm que recuperar a centralidade da Palavra na nossa adoração. Ouvir a Palavra de Deus e responder a ela pode incluir louvor e ações de graças, confissão e proclamação, e qualquer destas coisas pode vir na forma de canções, mas nenhuma delas precisa ter essa forma. Uma igreja construída sobre a música – seja qual for o estilo - é uma igreja construída sobre a areia. Pregar é o componente fundamental do pastorado. Ore por seu pastor, para que ele se dedique a estudar Bíblia rigorosa, cuidadosa e seriamente, e para que Deus o conduza na compreensão da Palavra, na aplicação dela à sua própria vida, e na aplicação dela à igreja (veja Lucas 24:27; Atos 6:4; Ef. 6:19-20). Se você é um pastor, ore por estas coisas para si mesmo. Ore também por outros que pregam e ensinam a Palavra de Deus. Finalmente, ore para que nossas igrejas assumam um compromisso de ouvir a Palavra de Deus pregada expositivamente, de forma que os rumos de cada igreja sejam crescentemente moldados pela agenda de Deus expressa nas Escrituras. O compromisso com a pregação expositiva é uma marca de uma igreja saudável.

Novos modelos de pregação


Preparado pelo Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho para os Pastores Batistas do Amapá, novembro de 2009

INTRODUÇÃO

As raízes históricas do púlpito bíblico estão em Esdras, em Neemias 8.4-12, cuja leitura faço agora: “Esdras, o escriba, ficava em pé sobre um estrado de madeira, que fizeram para esse fim e estavam em pé junto a ele, à sua direita, Matitias, Sema, Ananías, Urias, Hilquias e Maaséias; e à sua esquerda, Pedaías, Misael, Malquias, Hasum, Hasbadana, Zacarias e Mesulão. E Esdras abriu o livro à vista de todo o povo (pois estava acima de todo o povo); e, abrindo-o ele, todo o povo se pôs em pé. Então Esdras bendisse ao Senhor, o grande Deus; e todo povo, levantando as mãos, respondeu: Amém! amém! E, inclinando-se, adoraram ao Senhor, com os rostos em terra. Também Jesuá, Bani, Serebias, Jamim, Acube; Sabetai, Hodias, Maaséias, Quelita, Azarias, Jozabade, Hanã, Pelaías e os levitas explicavam ao povo a lei; e o povo estava em pé no seu lugar. Assim leram no livro, na lei de Deus, distintamente; e deram o sentido, de modo que se entendesse a leitura. E Neemias, que era o governador, e Esdras, sacerdote e escriba, e os levitas que ensinavam o povo, disseram a todo o povo: Este dia é consagrado ao Senhor vosso Deus; não pranteeis nem choreis. Pois todo o povo chorava, ouvindo as palavras da lei. Disse-lhes mais: Ide, comei as gorduras, e bebei as doçuras, e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque este dia é consagrado ao nosso Senhor. Portanto não vos entristeçais, pois a alegria do Senhor é a vossa força. Os levitas, pois, fizeram calar todo o povo, dizendo: Calai-vos, porque este dia é santo; por isso não vos entristeçais. Então todo o povo se foi para comer e beber, e para enviar porções, e para fazer grande regozijo, porque tinha entendido as palavras que lhe foram referidas”.

Esta é a forma que púlpito deve ter: um homem ler a Palavra de Deus, esclarecer o que leu, o povo entender, ser impactado, e depois se alegrar pelos efeitos da Palavra. E como vemos no versículo 13, a pregação verdadeira ainda produz efeitos depois: “Ora, no dia seguinte ajuntaram-se os cabeças das casas paternas de todo o povo, os sacerdotes e os levitas, na presença de Esdras, o escriba, para examinarem as palavras da lei”. O povo quis mais da Palavra. O povo de Deus que é sério se extasia diante da Palavra, e quando a ouve quer mais.

Mas, infelizmente, aconteceu uma tragédia com a igreja contemporânea. Ela trocou o púlpito pela festa. O louvor atual, que muitas vezes mais parece com forró e desprogramação da personalidade através da música barulhenta, para efeitos de manipulação, tomou o lugar da proclamação bíblica. Temos muito culto, muito louvor e pouca santidade e afastamento do pecado. As pessoas não são impactadas pela Palavra de Deus. Éramos o povo da Bíblia e hoje somos o povo da caixa de som.

E há mais. Não quero ser polêmico, mas minha alma de profeta não me permite calar. Muitos pastores darão contas a Deus porque substituíram a Palavra de Deus pela sua palavra pessoal, no púlpito. O pregador é servo da Palavra, e quando usa o púlpito isto deve ser visto em sua vida. Muitos usam o púlpito para projetos pessoais, desvestindo-o de sua grandeza e de sua santidade e transformando-o em tribuna de ganho pessoal.

E há pregadores preguiçosos que ocultam sua pouca disposição de aprender com uma arrogância espiritual de quem tem uma linha vermelha com Deus e sabe de tudo. Parece que quando receberam a imposição de mãos, receberam um PhD em capacidade. Eugene Petersen faz esta observação, bem válida, em uma de suas obras: “Agostinho escreveu quinze comentários sobre o livro de Gênesis. Ele começou com as origens, porém jamais se contentou com o que realizara. Ele nunca acreditou que havia explorado profundamente o primeiro livro da Bíblia… Beethoven compôs dezesseis quartetos de cordas porque nunca estava satisfeito com o que havia composto antes” 1. Isto deve acontecer com o pregador. Nunca deve estar satisfeito com sua produção, mas procurar melhorar. Melhorar sua vida espiritual, seu conhecimento bíblico, sua dicção, seu português, seu sermão. Não deve pregar o mesmo sermão duas vezes. Mesmo que seja o mesmo sermão, este deve ser reestudado e aperfeiçoado.

Neste sentido, fico feliz por abordar este tema. E vim falar de coração, não de cátedra. Eu melhorei, porque tive que estudar, tive que pensar e refazer o que tinha feito antes. A gente cresce quando age assim.

Fiz esta introdução mais devocional, e entro em parte mais estrutural. Para tratar de novos modelos de pregação contemporânea, começarei pela área da interpretação. Pela exigüidade do tempo e pelo ambiente não posso apresentar um trabalho em nível de mestrado (não sei se conseguiria com mais tempo e em outro ambiente). É um desafio falar para pastores sobre pregação, mas desafios sempre são fascinantes. Espero ser útil. Foi nesta mentalidade que vi. Para ser útil. Vim como servo.

Começo pela parte da interpretação, que denominei de “A interpretação do texto”. Começo aqui porque a exegese está em baixa em nosso meio e as coisas mais disparatadas são ditas, em nome de Deus. Uma coisa é o livre exame das Escrituras. Outra coisa é a livre interpretação das Escrituras. Elas não podem ser interpretadas a bel prazer, enxertando-se nelas o queremos, ou torcendo-as para apoiarem nossa posição. Há regras de interpretação da Bíblia, postas pelo bom senso, que devem ser consideradas.

O QUE É INTERPRETAÇÃO?

Uma falsa hermenêutica, que não é hermenêutica, mas o desconstrucionismo literário de Derrida, diz que não se pode interpretar um texto, principalmente o bíblico, porque ninguém pode saber qual é a intenção do autor ao produzi-lo. Este é o discurso dos pseudos intelectuais. Lembro, a respeito, um argumento de Calvino chamado de sensus divinitatis (“senso da divindade”), presente na humanidade. Um dos motivos deste sensus é o fato de que temos um universo organizado, e não um caos. E o homem pode refletir sobre este ordenamento, o que mostra a possibilidade de se conhecer a Deus 2. Um Deus da ordem é necessariamente um Deus comunicável, porque ordem é uma comunicação e demanda comunicação 3. Cremos que Deus se comunicou e se comunicou de forma inteligível, como convém a um Deus da ordem. Se há uma mensagem cognoscível na ordenação cósmica, à luz de Romanos 1.18-30, não a haverá na Bíblia, revelação proposicional, verbalizada, de um Deus comunicante?

Há um princípio hermenêutico inegociável: o autor último do texto bíblico é o Espírito Santo (2Pe 1.21). Outro princípio inegociável: o pregador é uma pessoa regenerada pelo Espírito Santo, que habita nele, e que pode levá-lo a entender as coisas do Espírito: “Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, mas sim o Espírito que provém de Deus, a fim de compreendermos as coisas que nos foram dadas gratuitamente por Deus; as quais também falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito Santo, comparando coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1Co 2.12-14). Cremos que uma pessoa regenerada, iluminada pelo Espírito, entende o que o Espírito revelou. E uma das tarefas mais esperadas de um pastor é que ele interprete a Palavra de Deus para o seu rebanho. A mais forte razão pela qual a igreja de hoje está confusa e fraca é por falta de ensino correto das Escrituras. Precisamos interpretar bem a Bíblia e depois ensiná-la bem ao nosso povo.

Dito isto, definamos interpretação: “Interpretação é o esforço de uma mente em seguir os processos mentais de outra mente por meio de símbolos que chamamos linguagem” (Dana). Lembrando do texto de 1Coríntios 2.12-14, consideremos o versículo 15a: “Mas o que é espiritual discerne bem tudo”. Assim afirmo que o principal critério para a boa interpretação é vida espiritual, bem orientada pelo Espírito Santo de Deus. A espiritualidade sadia é a primeira e maior ferramenta na interpretação do texto bíblico. A interpretação bíblica correta só pode ser feita onde Deus é o Tu. O primeiro intérprete a chamar Deus de Ele foi a serpente (Gn 3.1). E isto trouxe muitos problemas para a humanidade. Quem não pode chamar a Deus de Tu e viver com o Tu, não pode falar de Deus como Ele. Deve calar a boca. Mas cuidemos da interpretação do texto.

Eis alguns passos a seguir para uma boa interpretação do texto:

1. É preciso conhecer o texto e seu substrato histórico

1.1 – O autor e seu momento histórico e cultural. O contexto dos salmos 32, 46 e 51, por exemplo. Partimos de um pressuposto: o texto tem um background, um pano de fundo. O texto não foi escrito em tabula rasa, mas num contexto histórico e cultural. Por isso o método histórico e cultural tem valor, tanto quanto o gramatical.

1.2 – Os destinatários e seu ambiente. Cada igreja do Apocalipse tinha seu ambiente geográfico, cultural e espiritual próprio que se refletiu no conteúdo da mensagem. Há um pano de fundo em Hebreus, mostrado no tipo de leitores e no ambiente que eles viviam, que serve de ferramenta hermenêutica. Partimos de um pressuposto: não somos os destinatários primeiros dos livros, mas os segundos.

1.3 – A ocasião e o propósito do autor. Tiago e Paulo sobre Abraão, por exemplo. Um defende a salvação pela fé (Paulo, em Efésios 2.8-9) e outro, a salvação pelas obras (Tiago, em Tiago 2.21 e 25)?

1.4 – As condições geográficas, políticas, culturais, econômicas e sociais. Maria era noiva de José e é chamada de esposa, por exemplo. O que significa amontoar brasas de fogo sobre a cabeça do inimigo, em Romanos 12.20?

2. É preciso conhecer o texto e seu contexto

2.1 – Conheça o contexto próximo: o imediato, antes e depois. A boa exegese manda que se analise um pensamento completo.

2.2 – Conheça o contexto remoto: o livro e a Bíblia, sobre o assunto. Se o Espírito é o autor das Escrituras, ele não se contradisse. O que o todo bíblico diz sobre a parte?

2.3 – Lembre-se do princípio da revelação progressiva, bem expresso em Mateus 17.5 e em Hebreus 1.1-2. Lembre-se do conceito de Lutero: “Cristo é o cânon dentro do cânon”. Ele é o fio de prumo hermenêutico. O suporte deste conceito de Lutero é o conceito de revelação progressiva. Que não é sair do erro para a verdade, mas do incompleto para o completo e do obscuro para o claro.

3. É preciso conhecer o texto e saber analisá-lo

3.1 – Conheça o sentido das palavras. É poesia? Linguagem figurada? Artigo de livro pré-milenista sobre a reconstrução de Babilônia e Isaías 13.19-22. Use dicionários e léxicos. A obra de Fee & Stuart, Entendes o que lês?, da Vida Nova, é excelente para dar este embasamento. Outro muito útil é Evangelho – figuras & símbolos, de Mateos e Camacho, da Paulinas.

3.2 – Conheça a relação entre as palavras. Graça e fé, por exemplo. Constantemente ouvimos os crentes e até pastores dizerem que somos salvos pela fé. Não somos salvos pela fé. Somos salvos pela graça, por meio da fé (Ef 2.8-9). Há sentido nesta ordem e nas preposições.

3.3 – Recrie, tanto quanto possível, a vivência daquela passagem. Conheça aquela cultura. Interpretar não é trazer o texto para o nosso tempo. É ir ao tempo do texto. E trazer os princípios do texto para o nosso tempo.

4. O texto e seu estudo

4.1 – Examine várias traduções portuguesas: VR, NTLH, RAB, BJ, BV, BL, BP, NVI, KJ, NTJ, etc.

4.2 – Examine outras traduções: KJ, NIV, Reina-Vallera.

4.3 – Examine o texto em grego ou hebraico.

4.4 – Dê sua própria interpretação. Não invente, mas diga o que entendeu.

CLASSIFICAÇÃO DOS SERMÕES QUANTO À ESTRUTURA

Um sermão pertence a uma destas três categorias: tópico (ou temático), textual ou expositivo. Definamos cada um sinteticamente.

Sermão tópico ou temático - Trata de um tópico e não de um texto bíblico em particular. As divisões derivam do tópico (ou tema). É aquele em que o tema deriva do texto, mas as divisões, não. São aleatórias. Como tratamos aqui de exegese, deixá-lo-ei de lado porque ele não lida com exegese. Fiquemos com os sermões textual e expositivo.

Sermão textual – Trata do desenvolvimento de um texto bíblico, um ou dois versículos. As divisões derivam do texto. É aquele em que as divisões correspondem às palavras do texto. Sermão e texto caminham juntos. Pode ser literal, se as divisões são as palavras do texto, e livres, quando as palavras do texto fornecem as idéias das divisões.

Exemplo 1 – “O maior amor do mundo” (João 3.16) – IGCF

1. O amor de Deus é o maior amor do mundo quanto à sua extensão (“o mundo”)

2. O amor de Deus é o maior amor do mundo quanto à sua prodigalidade (“deu”)

3. O amor de Deus é o maior amor do mundo quanto aos seus efeitos (“não pereça… tenha a vida eterna”).

Exemplo 2 – “A salvação do carcereiro” (Atos 16.31) – Crabtree

1. O Salvador é o Senhor Jesus (“crê no Senhor Jesus”)

2. É uma salvação garantida (“serás salvo”)

3. É pela graça mediante a fé (“crê”)

Respeitando a fantástica cultura de Crabtree em AT e Hebraico: este esboço tem um problema. O título é inexpressivo. Seria correto se fosse pregado para carcereiros, mas nada diz ao ouvinte contemporâneo. Lembre-se: o título do sermão deve ser relevante e contemporâneo.

3. Sermão expositivo - É aquele que faz a exposição completa de um texto bíblico. Sua estrutura parece com a do textual. A diferença entre os dois é que o textual usa apenas um versículo. O expositivo lida com um texto maior.

Exemplo 1 – “O remédio para um mal incurável” (2 Reis 5.1-14) – Hawkins

1. O remédio necessário (v. 1)

2. O remédio conhecido (vv. 2-4)

3. O remédio procurado (vv. 5-10)

4. O remédio recusado (vv. 11-12)

5. O remédio aceito (vv. 13-14).

Aqui, o trabalho foi facilitado porque a ordem dos argumentos está clara no texto. Muitas vezes, principalmente nas cartas paulinas, é necessário trabalhar com uma ordem diferente daquela em que os argumentos aparecem no texto bíblico. Nem sempre nossa argumentação pode seguir a mesma ordem da argumentação do autor bíblico. Os orientais têm o estilo decrescente de escrever, do maior para o menor. Nossa argumentação é crescente, do menor para o maior. Mas mudar a ordem não significa ser infiel ao texto. Os conceitos têm que estar respaldados no texto.

Exemplo 2 – “O fantasma de Acã” (Atos 5.1-11) Macaulay, citado em Predicación Expositiva, de White, p. 140

1. O pecado que ameaçou a igreja

2. A severidade que salvou a igreja

3. A santidade que glorificou a igreja

Normalmente, nos títulos e divisões, os nomes de pessoas e lugares devem ser deixados de lado. Porque isto remete o sermão ao passado e o confina lá. Mas preste atenção: o texto não faz nenhuma referência a Acã. O pregador deduziu que a igreja conhece a história de Acã (tantas vezes contada em nosso meio) e deve tê-la utilizado na introdução. Relacionou-o com a igreja e seguiu por uma brilhante linha de raciocínio.

4. As vantagens do sermão expositivo

1ª) Parece-me o mais necessário atualmente, pois vivemos numa época de tantas esquisitices nas igrejas e de absoluta ignorância bíblica. Há muito ensino fragmentário, sem base bíblica: amarrar Satanás, abençoar água por oração, sal grosso para descarrego, abençoar fotografias, etc. Estas práticas são tiradas de passagens bíblicas isoladas e de eventos acidentais, não sendo uma prática respaldada pelo ensino bíblico geral. O sermão expositivo faz teologia bíblica.

2ª) Dá cultura teológica e bíblica ao pregador. Por dar conhecimento bíblico ao pregador, acaba dando-lhe cultura teológica. O pastor deve ser uma autoridade em Bíblia e não em exotismos doutrinários. E nem mesmo em pensamento secular mais quem em conhecimento bíblico. Há muito ensino humano no púlpito. Estive com uma igreja em que os crentes reclamaram que por um bom tempo não ouviram pregação da Palavra, mas apenas comentários sobre os livros de Alberto Cury. Sobre isto, recomendo o livro Pense biblicamente, de John Macarthur Jr 4. Considero-o indispensável a um intérprete cristão das Escrituras.

3ª) Está de acordo com a dignidade da pregação: ensinar a Bíblia. É bem diferente entrar numa igreja onde a Bíblia é exposta com seriedade e em outra onde a festa é elemento principal do culto.

A ESTRUTURA DO SERMÃO TEXTUAL

Já vimos o que é um sermão textual. Vimos exemplos de esboços e captamos sua estrutura. Como é elaborado? Como se faz?

1. A relação com o texto

O texto, acima de tudo, tem que ser expressivo. O sermão vai depender da força do texto. O texto deve ter um pensamento completo, claro e forte. Lembre-se que no sermão é o texto. E, de acordo com o texto, o sermão textual pode ser literal e livre. Vejamos cada um deles.

2. Sermão textual literal

Nele, as divisões são, literalmente, as expressões contidas no texto. É daqui que vem sua classificação.

Exemplo – “Cristo morreu por nós” (Romanos 5.8) – Hawkins

1. Cristo

2. Morreu

3. Por

4. Nós

Mas atenção: não é um mero esquartejar do texto, pondo palavras aqui e acolá. Na primeira divisão enfatizou-se a pessoa de Cristo como Salvador. Na segunda, o valor de sua morte. Na terceira, o fato de que ela é vicária, e na quarta, que é pessoal. Mas me parece que o sermão contém um erro de estrutura: as divisões 3 e 4 dizem a mesma coisa. O pregador terá que ser muito cuidadoso para não repetir argumentos. Este é um cuidado a tomar na confecção do sermão: as divisões não podem ser repetitivas. O sermão não pode ser cíclico, com argumentos se repetindo. Deve ser linear e crescente: uma linha para o alto.

3. Sermão textual livre

Nele, as divisões são formuladas livremente, sem repetir as expressões contidas no texto, mas apreendendo as idéias.

Exemplo - “Um texto cheio de luz” (João 12.36) – Crane

1. Uma oferta gloriosa (“para que vos torneis filhos da luz”)

2. Uma condição simples (“crede na luz”)

3. Uma oportunidade fugaz (“enquanto tendes a luz”)

Neste texto, a ordem das divisões não é a mesma em que as expressões aparecem no texto bíblico. De acordo com sua argumentação, o autor inverteu a ordem de aparecimento das expressões. Mas o sermão é rigorosamente bíblico.

4. Algumas observações necessárias

1ª) O textual literal pode ser tornado em textual livre, e vice-versa.

2ª) Repito: a ordem do texto não é, necessariamente, a ordem das divisões. O exemplo de Crane mostra isso muito bem. A lógica da argumentação deve prevalecer. Lembre-se: nossa cultura e nosso estilo de raciocínio são diferentes do estilo e da cultura oriental.

3ª) Importante: é necessário preservar os pensamentos, quando não as próprias palavras do texto, nas divisões do sermão. É o texto que comanda o desenvolvimento. É o texto que está sendo analisado.

4ª) É necessário captar os sentidos das partes do texto, vendo as idéias principais. Dividindo o texto em idéias principais, as divisões irão surgir. As partes não devem conflitar com o todo, ou seja, as divisões devem estar em harmonia com o título. O textual literal nem sempre permite o melhor esboço. Usemos Hebreus 2.3: “Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?”. Um esboço literal nos dará: “escapar”, “nós”, “se”, “negligenciarmos”, “salvação tão grande”. Um esboço “impregável”. Não faz muito sentido.

5ª) Usando o modelo textual livre é possível apresentar um bom sermão neste texto. Veja este esboço:

1. Uma grande salvação

2. Um grande perigo

3. Um destino inevitável

Note que este esboço segue para uma linha negativa, enfatizando a ruína. Deve ser usado com perícia e com misericórdia. Se há algo que se pode aprender da Publicidade é que nunca se explora um assunto pelo lado negativo. O Min. da Saúde mostra imagens horrorosas dos efeitos do fumo, nos maços de cigarro. A Publicidade mostra imagens de prazer. Qual dá mais certo?

6ª) Ponha as idéias em ordem. No item anterior, as idéias foram postas em ordem. Isto requer trabalho, humildade e objetividade. Quanto ao trabalho, lembre-se de Thomas Edson: “O gênio é mais trabalho que inteligência”. Volto à obra de Petersen, em que ele cita Beethoven. Assim se expressa sobre o grande compositor: “A perfeição era sua meta” 5. Quanto à humildade, não pense de si e de seu trabalho como algo completo. Você sempre pode melhorar e seu trabalho sempre pode ser aperfeiçoado. Quanto à objetividade: pergunte-se: “É isto mesmo?”. Veja e reveja. Analise. Não se contente com o realizado.

7ª) Faça algumas perguntas, com o esboço pronto:

Pergunta 1 – É isto, exatamente, o que o texto diz ou é o que eu quero que o texto diga? Estou me sobrepondo ao texto ou o texto está se sobrepondo a mim?

Pergunta 2 – As idéias estão na melhor ordem para o povo compreender?

Pergunta 3 – Estou deixando brechas na minha apresentação? Há falhas?

Pergunta 4 – Há idéias desnecessárias, que fogem ao propósito do sermão, mesmo que boas?

SERMÃO EXPOSITIVO: O QUE NÃO É, O QUE É

1. Definições

1ª) Sermão expositivo é aquele em que o pregador expõe certo trecho das Sagradas Escrituras, analisando-o em seus detalhes mais importantes, aplicando-o à vida dos ouvintes.

2ª) Sermão expositivo é aquele que faz a exposição do conteúdo de um texto bíblico de extensão superior a um versículo.

2. O que o sermão expositivo não é

1º) Não é um ligeiro comentário exegético sobre o conteúdo de um versículo ou capítulo.

2º) Não é tirar idéias de comentários bíblicos e citá-los eruditamente do púlpito.

3º) Não é uma exegese de uma coleção de versículos relacionados com um assunto.

4º) Não é fazer sugestões devocionais numa “corrida” versículo por versículo de um texto.

5º) Não é um comentário errante ou um tagarelar de improviso sobre um trecho bíblico, sem tema e sem objetivo.

6º) Não é dizer “este texto tem falado ao meu coração” e ficar embromando por meia hora, sem falar nada além do que o texto diz, com outras palavras, ou simplesmente nada dizer.

3. O que o sermão expositivo é

É, principalmente, uma explanação ou exposição da Bíblia. A etimologia vai nos ajudar. Explanação vem de ex planare, fazer plano, deixar claro. Exposição vem de ex poser, por para fora. Significar fazer um plano, deixar claro, por para fora o que a Bíblia está dizendo. O sermão expositivo exige exegese e exposição. A exegese é “tirar idéias para fora” do texto. Ela extrai o sentido histórico, gramático e real do texto. Na exegese tiram-se idéias do texto. É o oposto de eisegese, que é o que muitos pregadores fazem, isto é, colocar suas idéias no texto. Na exposição, o pregador dá ao povo as idéias do texto. A exposição bíblica dá ao povo a exegese do texto.

4. Elementos básicos do sermão expositivo

1º) O sermão expositivo procura explanar um texto bíblico.

2º) O sermão expositivo procura captar o sentido original da passagem. A pergunta mais importante é esta: “O que isto queria dizer, naquela época, para aqueles ouvintes?”. Não é o que quer dizer para nós. Não somos os destinatários primeiros do texto, mas os secundários.

3º) O sermão expositivo procura relacionar o sentido original do texto ao contexto em que ele se acha inserido. As perguntas aqui são: “Por que isto está sendo dito? Quais as circunstâncias em que isto foi dito?”

4º) O sermão expositivo procura descobrir as verdades universais e a verdade contemporânea dentro do seu contexto bíblico. É uma busca para se saber o que é um princípio de valor eterno e o que é princípio de valor relativo. A pergunta é: “Qual o princípio que está sendo ensinado aqui? Ele tem validade hoje?”. Aqui entram o princípio da revelação progressiva e o conceito de Lutero de Cristo como o cânon dentro do cânon.

5º) O sermão expositivo procura organizar estas verdades ao redor de um tema central inerente ao texto e relevante ao auditório. Esta é a maior dificuldade do pregador. A pergunta é: “Como colocar estas idéias numa ordem que meu auditório entenda e guarde?”. Lembre-se: nós não apenas pregamos a Bíblia. Nós pregamos a Bíblia para o povo. Não basta boa exegese. É necessário fazer boa aplicação. É ela que garante o bom sucesso do pregador.

APÊNDICE

SERMÃO EXPOSITIVO: COMO PREPARÁ-LO

(Palestra apresentada em curso de aprofundamento pastoral e adaptada para esta apostila)

É difícil pensar. É mais difícil pensar em pensar. Mas é mais difícil ainda falar sobre pensar em pensar. Esta é a tarefa básica de qualquer pessoa que tenta ensinar preparação de sermões. Apesar da dificuldade, entretanto, vou tentar.

Alguns bons expositores da Bíblia dizem não ter método, mas seus sermões saem bem feitos, assim mesmo. Na primeira vez que lecionei Pregação Expositiva, em 1985, tive um problema: sabia como fazer, mas não sabia mostrar como fazia. Assim sendo, a disciplina foi uma espécie de oficina prática: fazia com os alunos e aprendíamos juntos. Devo dizer que não me considero um bom expositor da Bíblia, então não é sobre mim, mas sobre estes homens que duas coisas devem ser ditas:

1ª) Muitos expositores que dizem não seguir nenhuma regra, normalmente não têm examinado como eles fazem para preparar seu sermão. Mesmo que esteja sendo feito inconscientemente de ser um método, essa ausência de método é o seu método. Ou seja, têm um método, mas não o explicitaram. Na verdade, poucos pregadores expositivos, dos bons, são sem método.

2ª) Qualquer pessoa que deseja aprender como fazer uma coisa bem feita deve estudar os métodos das pessoas que fazem com consistência, e não os métodos dos que fazem por acaso.

Tornar-se um expositor maduro da Bíblia é tarefa que demanda viver a vida toda com a Bíblia e com o povo. Como jovem pastor eu ficava observando, admirado, pregadores mais experientes, com 40 e 50 anos, pela sua habilidade em pregar expondo a Bíblia de maneira que eu não sabia fazer, por mais que me esforçasse. Eu ficava curioso para saber porque não pregava como uma pessoa assim. Depois de algum tempo é que descobri que somente uma pessoa que estudou a Bíblia com seriedade, por anos, e que conviveu com o povo por anos, podia pregar assim, de forma tão madura e consciente. Mas cada pregador que deseja crescer como expositor da Palavra precisa de ajuda específica para começar, não importando qual seja a sua idade. Saber como alguém mais experiente faz pode ajudar um pouco.

Quando tratamos dos estágios da preparação do sermão, os argumentos algumas vezes se misturam, ficando fora da ordem que nosso povo pode entender bem. Por exemplo: todo livro de Homilética vai dizer que o melhor momento para preparar a introdução é quando o esboço já está pronto, ou pelo menos, sua idéia geral está bem clara para nós. Mas na quase totalidade das vezes, eu tenho logo a idéia para a introdução e desenvolvo toda a argumentação a partir dela. Ou seja, geralmente, minha introdução é que desencadeia todo o sermão, o oposto do que os homiletas ensinam. Há linhas gerais para a confecção de sermão, mas cada pregador tem um esquema mental e deve desenvolver seu modo de trabalho.

Ditas estas coisas, vejamos os estágios necessários para a preparação de um sermão expositivo.

ESTÁGIO UM: ESCOLHER A PASSAGEM A SER PREGADA

Uma antiga receita para coelho ao molho começa assim: “Primeiro você pega um coelho”. Coloque as primeiras coisas em primeiro lugar. Sem um coelho, a receita se torna sem uso. De que serve o molho para coelho sem o coelho? O primeiro problema que o pregador expositivo enfrenta é este: “De qual passagem da Escritura devo tirar meu sermão?”.

Algumas vezes, as ocasiões especiais ou necessidades especiais me ajudam a selecionar o meu texto. Nos dias de natal ou semana santa, o óbvio é escolher uma passagem que se relacione com o tema da época. Ou é possível começar com um assunto ou problema como a doutrina da trindade, ou inspiração das Escrituras, ou preocupações pessoais como a culpa, solidão, ou divórcio e então procurar uma passagem que se relacione com o tópico. Um tempo atrás, a igreja que eu pastoreava escolheu novos diáconos. Fui à Bíblia para procurar alguns textos dos quais eu poderia realizar estudos ou preparar sermões sobre a escolha e a função dos diáconos. Penso que isso poderia ser chamado de “exposição em tópicos”. É bem diferente do assim chamado sermão em tópicos, nos quais a passagem bíblica é pretexto para o que vou dizer. Neste caso, a passagem molda tudo o que eu digo. Escolho um tópico, mas posso fazer um sermão expositivo sobre a passagem.

Durante algum tempo, trabalhei escolhendo um livro da Bíblia e pregando nele, em ordem, capítulo por capítulo, versículo por versículo. Isto me livrava da angústia de estar procurando o que pregar no domingo seguinte. Tendo pregado um sermão numa passagem, simplesmente passava para a seguinte. Sabia de onde viria minha mensagem no domingo seguinte. Há uma mensagem de Deus em cada passagem bíblica e fazendo assim, pregando livro após livro, versículo após versículo, estou declarando “todo o conselho de Deus”, em vez de pregar somente nas minhas passagens e tópicos prediletos. Para a igreja é muito bom, também, porque ela passa a ter uma visão global de um livro da Bíblia. Ultimamente, minhas mensagens têm brotado de minhas leituras bíblicas diárias. Em janeiro e fevereiro li todo o Novo Testamento Judaico. Com isso, muitos sermões no Novo Testamento me vieram à mente. Tem me acontecido que muitas vezes, lendo o texto, a idéia para o sermão me salta aos olhos, e interrompo a leitura para confeccioná-lo.

Nas cartas do Novo Testamento, geralmente uso as divisões em versículos ou em idéias. Quando a seção é narrativa, o melhor é trabalhar com unidade de história completa. Por exemplo, se alguém pregar o adultério de Davi com Bate-Seba, a história seria fragmentada se este alguém pregasse um versículo de cada vez. O melhor é tomar todo o capítulo 11 de 2Samuel . Ou, tendo habilidade, a repreensão feita por Natã (cap. 12) e voltar ao capítulo 11 em estilo de flashback, de revisão. Se pregar sobre literatura poética, como Salmos, por exemplo, ou o salmo inteiro ou versículos que contenham uma unidade de pensamento completa ou um resumo do salmo. No entanto, é necessário basear o meu sermão em alguma unidade do pensamento bíblico. O mais importante é permitir que a passagem bíblica molde o que vai ser dito no sermão.

ESTÁGIO DOIS: ESTUDAR A PASSAGEM E REUNIR AS NOTAS

Enquanto estudo, conservo o texto na mente, tanto o texto em si como seu contexto imediato. Por exemplo: 1Coríntios 13 é parte de uma unidade que trata dos dons espirituais (12 a 14). Estes capítulos devem ser considerados em contexto, como um todo, para que interprete de maneira apropriada o contraste do amor com a arrogância e mau uso dos dons espirituais. Será um desastre pregar sobre uma passagem isolada de Eclesiastes, sem a noção do ensino global do livro. O mesmo pode ser dito de Jó, quando o próprio Deus diz que o que foi dito pelos amigos de Jó não estava certo (Jó 42.7). Como pregar em uma coisa que o próprio Deus diz que está errado?

A importância de se conhecer o contexto imediato pode ser vista em Gálatas 5.4: “da graça tendes caído”. Usado isoladamente, o texto poderá apoiar aqueles que dizem que o homem pode perder sua salvação. Mas no contexto de Gálatas se diz algo muito diferente. Paulo argumenta que aqueles que tentam se salvar pela guarda da lei estão cortados do sistema da graça. No contexto, “graça” não é a experiência pessoal da salvação divina, mas todo o sistema do evangelho da salvação em Cristo. Estudando o contexto, o pregador evitará erros similares.

Enquanto estudo, eu examino os detalhes da passagem em vista, procurando pistas importantes. Neste caso, o conhecimento das línguas bíblicas se torna inestimável. A mensagem da Escritura pode ser compreendida perfeitamente de qualquer tradução, mas hebraico e grego acrescentam muito à compreensão. Se você não tem o domínio das línguas bíblicas, há bons comentários que fazem boas exegeses. Fuja dos comentários açucarados que nada acrescentam.

A televisão em preto e branco e a em cores captam a mesma imagem, mas a cor acrescenta interesse e precisão que não possíveis na tevê em preto e branco. É isto que nos proporciona o conhecimento e o uso das línguas bíblicas. Ninguém precisa ser mestre nestas línguas para usá-las com benefício, e quase todos os pregadores, valendo-se de bons livros, podem obter este benefício. O homem de Deus que seja sério e que leve a sério sua responsabilidade como pregador procurará ter toda a precisão possível na interpretação da Palavra de Deus. Nunca buscará dizer qualquer coisa nem declarar em nome de Deus o que ele nunca disse.

Depois disso, continuo estudando até estar bem consciente de que posso declarar o que o autor quis dizer. Este passo é fundamental: “É isto, exatamente, o que o autor queria dizer”.

ESTÁGIO TRÊS: DECLARAR AS IDÉIAS EXEGÉTICAS EM FORMA HOMILÉTICA

A exegese nunca é um fim em si mesma. A pregação expositiva consiste em cavar idéias na Bíblia e relacioná-las com o cotidiano das pessoas. Para se pregar eficientemente não basta estudar a Bíblia. É necessário estudar também os ouvintes. Tenho que trazer juntos o mundo antigo e o meu próprio mundo, o que Deus disse no passado e o que quer dizer agora.

Tomemos 1Tessalonicens 1.2-6, por exemplo. Nesta passagem Paulo agradece a Deus pelos cristãos tessalonicenses por causa dos resultados que emanavam da sua fé, esperança e amor e também pela evidência de que eles haviam sido escolhidos por Deus. Não posso pregar um sermão dando graças a Deus pelos tessalonicenses. O que isto tem a ver com o meu auditório? A idéia tem que ser mais direta e pessoal: vou agradecer a Deus por outros cristãos, por aquilo que eles fazem pela obra de Deus e por causa daquilo que Deus fez por eles.

O maior obstáculo a superar é na ocasião de transferir do texto todos os nomes próprios, lugares, incidentes e descrições. O sermão não deve falar do passado, mas do presente. O pregador tem que ajudar a congregação moderna a ouvir Deus falando hoje de um texto tido como antigo. É necessário eliminar todos os nomes próprios (exceto o de Deus ou Jesus ou Espírito Santo) dos pontos principais da mensagem. Devemos deixar de lado qualquer detalhe que atraia a atenção mais para o então do texto do que para o agora do desafio de Deus na mensagem. Vamos exemplificar. Uma pessoa preparou uma mensagem na parábola do filho pródigo desta maneira:

Título: “Sua Procura“

1. Ele procurou por liberdade

2. Ele procurou por aceitação

3. Ele procurou por propósito

Seria uma excelente mensagem se fosse pregada ao filho pródigo, mas que é inadequada para um auditório moderno. Seria muito melhor tornar a mensagem mais genérica e, ao mesmo tempo, mais pessoal, como se segue:

Título: “Um Jovem Buscando Satisfação”

1. Um jovem buscando por liberdade

2. Um jovem buscando por aceitação

3. Um jovem buscando por propósito

Assim fazendo, estou falando aos jovens de hoje e não ao pródigo de ontem. Lembre-se: o sermão trata de realidades presentes e não de coisas do passado. Não falamos para falecidos, mas para contemporâneos.

ESTÁGIO QUATRO: DETERMINAR O TEMA DA MENSAGEM

É necessário decidir sobre o que, exatamente, a mensagem vai tratar. Qual é o tema? Alguns pregadores fazem uma porção de considerações sobre o texto e acabam não dizendo nada. O que queremos dizer?

Muitas vezes o tema está claramente expresso na própria passagem. Cecil Taylor tem uma mensagem baseada no Salmo 51.3, mostrando os passos que Davi sabia que tinha que dar antes que pudesse pregar aos transgressores e ver pecadores voltando-se para Deus (Sl 51.13). Um tema excelente para se pregar a evangelistas, pregadores, pastores e seminaristas. A idéia, Taylor tirou do v. 13, mas os passos (vendo o v. 13 como um clímax), dos versículos anteriores. Antes que qualquer cristão possa ensinar aos transgressores os caminhos de Deus e vê-los convertidos, é necessário que haja a remoção do pecado (51.1-9), renovação de um espírito reto (51.10), reconhecimento da obra do Espírito Santo (51.11) e restauração da alegria da salvação (51.12). O que ele quis dizer, o que determinou como tema da mensagem, foi isto: para levar os perdidos ao Senhor, o povo de Deus precisa por algumas coisas em ordem.

Agora, um exercício prático. Com as idéias de Cecil Taylor, construa um esboço de sermão, respeitando a linha aqui mostrada.

Em outras ocasiões, o tema é apenas sugerido pelo texto. Por exemplo, em Romanos 1.11-13, Paulo deu as razões pelas quais desejava estar junto com os cristãos de Roma. Ele queria “repartir com eles alguns dons espirituais” (1.11), “ser confortado juntamente com eles” (1.12) e “obter alguns frutos” no meio deles (1.13). Aqui estão algumas das razões que levam qualquer pessoa à igreja: dar alguma coisa, uma bênção (1.11), receber alguma coisa, como encorajamento (1.12) e ajuntar alguma coisa, ou seja, fruto (1.13), isto é, convertidos em crescimento cristão. Assim desenvolvi um sermão com o título “Por Que Ir à Igreja?”. As divisões ficaram:

1. Para dar alguma coisa

2. Para receber alguma coisa

3. Para ver frutos

Preste atenção: Paulo e os romanos foram deixados de lado. O tema passou a ser o sugerido pelo texto. Paulo queria ir à igreja de Roma, então, a linha passou a ser essa: por que ir à igreja? Basta seguir nesta direção, portanto.

ESTÁGIO CINCO: COLOCAR CARNE NO ESQUELETO (RECHEAR AS DIVISÕES)

Sendo o sermão expositivo, é necessário que cada divisão esteja calcada no texto bíblico. Os exemplos anteriores mostraram isso. Mas achadas as divisões, vem a pergunta: “E agora, como rechear isso?”. Como desenvolver o esboço?

Quatro coisas podem ser feitas para que desenvolver os pontos ou divisões: redeclarar, explicar, provar ou aplicar.

A redeclaração simplesmente apresenta a idéia do texto em outras palavras, para clareá-la ou para enfatizá-la. Às vezes faço questão de repetir a idéia do autor com minhas palavras, para que o povo saiba, exatamente, o que está sendo dito. A redeclaração responde à pergunta: “Oque foi dito?”.

A explicação responde à pergunta: “O que isto significa? Em 1Coríntios 12.13 Paulo declarou que “todos nós fomos batizados em um Espírito formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer livres”. Ele estava partindo de um pressuposto que eu não posso ter: seus ouvintes sabiam o que ele estava dizendo. Mas se eu usar a expressão “batismo em um Espírito”, meu ouvintes, provavelmente, não saberão do que trata. Tenho que me antecipar às suas dúvidas e me preparar para responder tais perguntas em meu sermão.

A prova responde à questão: “Isto é verdadeiro?”. Não que se esteja questionando qualquer parte da Bíblia (embora o auditório incrédulo possa assim fazer). É mais uma questão psicológica: nem sempre a aceitação vem pela simples citação das Escrituras, tornando-se necessário comprovar a declaração, através do raciocínio e de ilustrações. O apóstolo Paulo, por exemplo, entendeu que a validade de sua argumentação não vinha apenas do Antigo Testamento. Era necessário provar, pelo senso comum e pela vida. Quando ele desejou provar à congregação dos coríntios que os ministros tinham o direito de serem pagos pelo seu ministério, argumentou com as Escrituras, mas também com a experiência, com o que se via no dia a dia. Leia-se o texto de 1Coríntios 9.7-12.

Se como pregador eu falhar em responder à pergunta “isto é verdade?”, estarei falando somente para aqueles que já estão convencidos de que o que eu prego é verdadeiro. Para falar a todos os meus ouvintes, eu preciso tratar honestamente desta pergunta ou questão.

A aplicação responde à pergunta: “E daí, o que diferença isto faz hoje?”. É fundamental que o pregador explique e argumente com a verdade da passagem e que não deixe NUNCA de relacionar a verdade com a vida dos seus ouvintes. Nós não pregamos para defuntos dos tempos bíblicos. Pregamos para nossos contemporâneos. O sermão precisa chegar a este ponto: “Entenderam bem? É isso que vocês devem fazer!”. Se não fizermos assim, não haverá resultado nem sentido em nossa pregação. É necessário mostrar que o que foi dito faz diferença hoje.

Resumindo: para rechear as divisões é necessário redeclarar, explicar, provar e aplicar.

ESTÁGIO SEIS: PREPARAR A INTRODUÇÃO E A CONCLUSÃO

A introdução é altamente relevante. Ela necessita chamar a atenção e conduzir os ouvintes ao principal, o corpo do sermão. A conclusão deve encerrar o sermão e levar a uma decisão. Se o pregador notar que, em sua introdução já preparada, não conseguirá atrair bem a atenção do povo para o que vai discutir, ele necessita trabalhar mais sua introdução. Se o pregador não pode mostrar, na conclusão, o que pregou e o que espera que as pessoas façam, deve trabalhar mais esta parte do sermão. Na realidade, tenho um problema aqui. Todos os livros de Homilética dizem que a introdução deve ser preparada por último. Geralmente é a primeira parte que faço, porque ela me direciona em toda a argumentação. Muitas vezes mudo conceitos e dou nosso novo arranjo às frases, mas via de regra a introdução é a primeira coisa que faço no sermão.

Um bom padrão para estabelecer a conclusão é este: o que o pregador pensa que Deus espera que seja a reação dos ouvintes? Como as pessoas devem responder a Deus? Isto determinará o rumo da conclusão.

CONCLUSÃO

Dois dos adversários dos pregadores de hoje são a preguiça e a autocondescendência. O pregador faz um esboço e acha que já está bom, porque já tem o que dizer. Não busca a excelência, que é fazer o melhor. E é autocondescendente: está satisfeito com o que fez e consigo mesmo. Ser um bom pregador demanda trabalho e uma constante insatisfação com a qualidade de sua produção. Um desejo de querer fazer o melhor, sempre, sempre. Sem estas duas características, trabalho e autocrítica, o pregador terá pouco sucesso em seu trabalho. Deus pode abençoar, mas o pregador estará sendo irresponsável. Que nunca sejamos irresponsáveis.

O SERMÃO BIOGRÁFICO

O sermão biográfico é aquele que aborda a vida de uma personagem bíblica, extraindo dela princípios para a nossa vida. Ele busca ligar uma vida do passado às vidas presentes, usando aquela para esclarecer e orientar estas. Pela sua natureza, é bastante atraente. Os livros que tratam desta área, biografia, mesmo os seculares, mostram boa vendagem. O povo gosta de biografias. Gosta também, de saber das lutas e vitórias de outros crentes e como imitá-los. É bom ver que grandes vultos do passado passaram por crises semelhantes às nossas e as venceram.

Caracterizemos bem o sermão biográfico. Não é contar a história de algum personagem bíblico, tirando lições para nossa vida. Isso pode até ser edificante, mas não é um sermão. Um sermão carece de idéias concatenadas, postas em argumentação crescente até um clímax. As idéias devem ser atuais, mostrando relevância para o auditório. Muita pregação falha por isso. É irrelevante. Gente normal não perde sono com heteus, cananeus, girgaseus, geografia da Palestina ou costumes de uma cultura distante no tempo e no espaço. Perde o sono com problemas de relacionamentos domésticos, emocionais, profissionais ou estudantis. Com inflação, doenças, desemprego, traição de amigos, etc. Houve gente na Bíblia que passou pelo que o ouvinte passa? Como sobreviveu? Alguém tem um filho rebelde? Davi precisou fugir do filho Absalão. Um rapaz luta para se manter puro diante do assédio de uma mulher mais experiente? José passou por isso. Esta é a possibilidade do sermão biográfico. Há séculos que a humanidade vivencia os mesmos problemas de relacionamentos, com variações pequenas. Foi assim nos tempos bíblicos. O que enfrentamos que eles não enfrentaram? A Bíblia focalizou essas questões e as respondeu, como sempre, de maneira admirável. Cabem aqui as palavras de Billy Graham: “O homem é precisamente o que a Bíblia diz que ele é” 6. Quer conhecer bem o homem? Estude a Bíblia, mais que filósofos e sociólogos.

1. O benefício da pregação biográfica

Os sermões biográficos ajudam o pregador em cinco aspectos principais.

Primeiro: Levam-no ao estudo sério da Palavra de Deus. É necessária muita leitura bíblica, muito cotejo de textos e verificação de citações. O pregador deve saudar com efusividade todo sermão que exija dele tempo com as Escrituras. Numa época de fast food, em que predominam a pressa e a superficialidade, o púlpito tornou-se emissor de banalidades. Boa parte dos sermões nada acrescenta à vida do povo. Infelizmente com certa dose de razão, alguém definiu um pastor tradicional como “Uma pessoa invisível durante a semana e irrelevante aos domingos”. A demora no estudo da Palavra é salutar. Para o pregador e para o povo.

Segundo: Tornam-se motivo de aplicação mental. É necessário analisar muito bem, porque a ordem cronológica pode não ser a melhor para a apresentação das idéias. Até mesmo a ordem em que os trechos surgem pode não ser a melhor. Exige reflexão, acuidade mental, raciocínio lógico.

Terceiro: O ato de debruçar-se sobre personalidades exemplares (boas ou más) é fonte de crescimento. Debruça-se sobre o caráter de pessoas que fizeram coisas dignas de registro (boas ou más) e que podem nos transmitir lições.

Quarto: Este tipo de sermão agrada às pessoas, mais particularmente a adolescentes e jovens, que gostam de biografias. Veja o volume de livros seculares sobre a vida de pessoas. Até sobre a vida deVera Fisher…

Quinto: Seu grande valor está em que lidam com vidas e não apenas com exposição de conceitos. Trata de questões reais e de gente de carne e osso, como nós.

Sexto: Há abundância de material sobre o assunto. Quantos personagens bíblicos há? Há muitos livros sobre o assunto. De um só relance alisto os seguintes: All the Children of the Bible, The Women of the Bible, All the Kings and the Queens of the Bible e All the Men of the Bible, todos de Lockyer; Mark These Men, de Baxter; Men Who Knew Christ, de Lasor; Estos Vinieron a Jesus, de Meyer, Doze Cristãos Intrépidos, de Coleman, e Doze Homens Comuns, de MacArthur Jr. Usei este ultimo numa série de sermões sobre os apóstolos, e me foi muito proveitoso. Ou seja, há material farto e de boa qualidade para ajudar no estudo dos vultos bíblicos.

2. Um exemplo negativo de sermão biográfico

Alguém preparou um sermão biográfico sobre Isaque. Abordou a política de Isaque de abrir novos poços quando lhe tomavam um. A idéia era excelente, mas o sermão só serviu para cavadores de poços. O sermão ficou no passado, com os verbos ilustrando ação acontecida e trazendo o nome do personagem no título e nas divisões. Perdeu a contemporaneidade. Um sermão sobre Gideão, que poderia ter sido muito interessante, pois Gideão não é muito conhecido de nossas igrejas, fracassou por completo. O título foi “A Vida de Gideão”. As divisões foram:

1. Gideão colocou a vida nas mãos de Deus

2. Gideão foi sincero para com Deus

3. Gideão se dedicou por completo à obra de Deus.

Analisando o esboço, observamos algumas coisas:

1ª.) O título é ruim. Nada diz sobre os ouvintes ou sobre nossos dias. E é muito genérico, nada dizendo. Só serviria para alguém chamado Gideão.

2ª.) Os verbos estão no passado, remetendo o ouvinte ao ontem do texto, quando se deveria trazer a lição do texto para o hoje do ouvinte.

3ª.) As divisões são típicas de uma análise histórica e trazem um defeito de formulação: a 1 e a 3 guardam semelhanças. Na realidade, dizem a mesma coisa com palavras diferentes.

Um pregador mais experiente modificou o esboço que ficou assim:

Título: “Um Jovem a Serviço de Deus”

1. Um jovem a serviço de Deus precisa ser sincero

2. Um jovem a serviço de Deus precisa ser consagrado

3. Um jovem a serviço de Deus precisa dar a glória a Deus.

Nesta nova estrutura, o pregador juntou o que eram as divisões 1 e 3, e usou o texto de Juízes 8.23 como base para a divisão 3. Gideão se recusou a ser rei, dizendo que o Senhor reinaria sobre o povo. Na conclusão, o pregador comentou que Gideão fez um éfode (Jz 8.27) que mais tarde levou o povo à idolatria. Concluiu dizendo que um jovem a serviço de Deus não deve deixar brechas, com suas atitudes, para que o nome de Deus seja desonrado.

Como se vê, não basta ter um personagem nem esquematizar sua vida. É preciso relevância, contemporaneidade, evitar-se a repetição de idéias e facilitar a assimilação por parte do auditório. Para este último fim, manter um número de palavras semelhantes nas divisões é bom. Ajuda a memorizar o que se disse.

3. Um exemplo positivo de sermão biográfico

Veja este sermão sobre Sansão. O título é “A Fraqueza do Forte”. As divisões ficaram assim:

1. A inocência da infância – uma promessa esperançosa

2. As tentações da mocidade – um perigo ameaçador

3. A pecaminosidade da maturidade – uma tragédia fatal.

Um esboço deste tipo é acompanhado pelo povo com muito mais interesse. Se fosse apenas um esquema histórico, boa parte das pessoas se desligaria do assunto. Não haveria relação alguma entre o que estava sendo dito com a vida dos ouvintes.

É preciso trabalhar bem as idéias. No livro de Lockyer, All the Men of the Bible, o autor apresenta um esquema sobre a vida de Nicodemos. Deu-lhe o título “O Homem que Veio a Jesus à Noite”. As idéias para as divisões são:

1. Ele veio a Cristo (Jo 3.2)

2. Ele falou por Cristo (Jo 7.45-52)

3. Ele honrou a Cristo (Jo 19.38-40).

O exemplo é singular, pois a cronologia vem em uma argumentação crescente. Mas como sermão deixaria a desejar. Utilizei a idéia de Lockyer (concedendo-lhe o devido crédito), adaptando-a para a seguinte forma:

Título: “Uma Tardia Demonstração de Amor”

1. A tristeza de perder oportunidades (Jo 3.1-9)

2. A tristeza do medo do envolvimento (Jo 7.45-52)

3. A tristeza de uma ação inútil (Jo 19.38-40).

Na introdução fiz a ligação entre os conceitos “tardia” e “tristeza” para não trabalhar com conceitos diferentes, no título e nas divisões.

Lockyer concluiu com uma bela frase: “É melhor dar flores para um vivo do que guardá-las para seu sepultamento”. Usei a poesia de Mirtes Mathyas, “Se podes dar-me uma flor, dá-me uma flor agora”.

Ao invés de ler os três textos como base para o sermão, li apenas João 3.1, que introduz Nicodemos na Bíblia e disse que usaria outros textos.

Apresento um esboço de estudo bíblico sobre Josafá, que apresentei em minha ex-igreja. Note que é um estudo e não um sermão, o tom foi mais coloquial, os participantes tinham a cópia e acompanhavam o desenrolar do estudo com ela e a Bíblia aberta. Tomei liberdades estruturais que não tomaria num sermão. Falei sobre Jeosafá e usei os verbos no pretérito, nas divisões. Num sermão, apresentaria os conceitos, e não Jeosafá:

IGREJA BATISTA DO CAMBUÍ

PERSONAGENS DA BÍBLIA – JEOSAFÁ – Apresentado em 30.8.7

TEXTO INICIAL: 1REIS 15.24

Preparado pelo Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho

INTRODUÇÃO

Jeosafá significa “Iaweh é juiz”. Filho do rei Asa, que empreendeu uma boa reforma, recebeu este nome e teve um caráter orientado pelo pai. Algumas marcas de sua vida podem nos orientar. Vejamos com atenção, pois ele é um modelo de homem piedoso.

1. ELE TEVE UM PAI QUE O ORIENTOU BEM – 2Crônicas 14.1-5. Veja-se a oração do seu pai em 2Crônicas 14.11. Mas estudamos Jeosafá ou Asa? Estamos vendo como um pai pode influenciar seu filho no bom caminho. Jeosafá andou no bom caminho: 2Crônicas 17.3-6. Os filhos devem perseverar no bom caminho que os pais ensinam.

2. ELE DESENVOLVEU UM SISTEMA DE INSTRUÇÃO RELIGIOSA PARA O POVO – 2Crônicas 17.7-9. Muita gente segue a Cristo, é realmente convertida, mas nunca usa sua posição para levar outras pessoas ao conhecimento da verdade. Jeosafá quis ensinar o povo. Quando testemunhamos, somos abençoados, como Jeosafá o foi: 2Crônicas 17.10.

3. ELE LIDEROU UM DESPERTAMENTO RELIGIOSO E JURÍDICO

Em 2Crônicas 14.4, seu pai comandou uma volta ao Senhor por parte do povo. E foi um exemplo para o filho, que orientou os juízes para serem pessoas corretas: 2Crônicas 19.5-7. Não usou nem torceu a justiça em seu benefício, mas podia servir de orientador aos juízes! E ainda orientou os sacerdotes: 2Crônicas 19.8-10.

4. ELE CONFIOU EM DEUS NO MOMENTO DE CRISE

Em 2Crônicas 20.1-3 ele busca ao Senhor em hora de crise. Sua fé era muito firme: 2Crônicas 20.17-18 e 20. 20-21. Na hora da crise mostramos a confiança que exibimos nos nossos cânticos ou nos descabelamos? É fácil ser firme na igreja e no louvor. Mas e na hora da crise? Jeosafá era fiel em qualquer momento.

5. ELE COMETEU UM ERRO – AJUNTOU-SE COM QUEM NÃO PRESTAVA

Fez aliança com Acabe, rei de Israel. Jeosafá era rei de Judá, fiel e temente e Deus. Acabe era pusilânime, idólatra e comandado por uma mulher sagaz e oportunista. Em 1Reis 22.1-4, está o registro da aliança. Nos versículos 5 e 6 se vê que os dois não falavam a mesma linguagem. O que Jeosafá viu em Acabe? Ele não andou no caminho de Israel: 2Crônicas 17.4. Acabe ainda o traiu: 1Reis 22.30-33. Mas Deus fez justiça: v. 34. Cuidado com gente falsa e aduladora!

CONCLUSÃO

A biografia de Jeosafá se encerra em 2Crônicas 20.31-32. Palavras elogiosas. Que o versículo 32 seja o epitáfio de cada um de nós!

4. Cuidados a tomar na confecção do sermão biográfico

Este tipo de sermão é fácil de se construir, mas alguns cuidados devem ser tomados em sua confecção. Alistamos alguns deles.

1º.) Escolha um texto que sirva de base para a linha a ser seguida no sermão. Se houver muito material sobre a vida da personagem, não é necessário ler tudo para o público. Leia um texto que baseie sua linha de pensamento. Deve ser um texto que sirva de ponto de partida ou de alicerce para a argumentação. Como fiz no sermão sobre Nicodemos.

2º.) Outros textos que servem de base para as divisões e argumentação poderão ser lidos durante o sermão. O esboço de um sermão sobre Barnabé explicita bem estes dois pontos:

Título: “Um Modelo de Vida” (IGCF)

Texto: Atos 11.22-24

1. É um modelo por ter o coração posto na obra (At 4.36-37)

2. É um modelo pelo apoio dispensado aos novos crentes (At 11.20-25)

3. É um modelo pela sua firmeza na graça (At 15.2)

4. É um modelo pela visão para compreender novos tempos (At 13.46-52)

3º.) Durante o seu estudo, leia todos os textos que se relacionam com os eventos marcantes da vida do personagem ou até mesmo todos os textos que se relacionem com ele. Pode ser que seja alguém do Antigo Testamento com aspectos de sua vida esclarecidos no Novo Testamento. Hebreus 11 mostra que Abraão esperava que Deus ressuscitasse Isaque dos mortos, o que Gênesis 22 não mostra. Veja se os dois Testamentos dizem algo sobre a pessoa.

4º.) Leia sobre a vida do personagem em um dicionário bíblico. Nele você encontrará uma sistematização cronológica. Mas cuidado, não se guie pela cronologia na sua estrutura. Guie-se sempre pela argumentação crescente. A cronologia pode ajudá-lo na compreensão da vida das pessoas, mas prejudicá-lo na exposição.

5º.) Não conte história. Pregue um sermão. Uma história cresce em cronologia e um sermão, em argumentação. Também não repita o texto com suas palavras. Isso é tautologia. Há muitos sermões tautológicos: lê-se algo e se repete o que se leu, com outras palavras. Veja o que o texto tem a dizer.

6º.) Deixe de lado aspectos do biografado que não sejam relevantes para o povo de hoje. Busque o que interessa. Veja os princípios que podem ser aplicados à vida de hoje. Costumes daquela época, moedas, geografia, indumentária, isso é secundário, quando não dispensável. Centre-se no essencial. Leve o povo a ver que seus problemas e suas necessidades foram experienciados no passado e que há soluções mostradas na Bíblia. Este é o ponto mais forte do sermão biográfico: mostrar ao povo que seus problemas são enfocados pela Palavra de Deus.

7º.) Esqueça o nome da personagem tanto no título quanto nas divisões. Centre a argumentação nos princípios que funcionaram naquela época e que funcionam hoje. Um exemplo está em um sermão sobre João Marcos. A idéia inicial, quando comecei a trabalhar as informações, era esta: “como o rapaz vacilante rejeitado por Paulo tornou-se indispensável ao apóstolo, no fim da vida”. Houve mudança na vida de João Marcos. Como mudar? Como amadurecer? No geral, sem poder centrar em uma passagem específica, o texto base, como ponto de partida, foi Atos 12.12. O título ficou sendo “É Possível Amadurecer” e contou com duas divisões:

1. Analisando as opiniões adversas

2. Sabendo refazer os caminhos.

8º.) Tenha bastante cuidado com a contextualização. Já citamos o exemplo do sermão sobre Isaque. Foi uma pena. Um pregador mais hábil fez Amós dirigir seu sermão aos políticos brasileiros, ao empresariado, à classe religiosa que busca vantagens nas relações sociais e fez uma chamada ao povo para exercer a solidariedade. Foi um sermão pregado em Brasília, na capela da FTBB, e teve, pelo local, grande significado. Sintetizou a pregação de Amós e teve fartura de material para sustentar as idéias. Quanto à contextualização esta deve ser feita sem forçar situações, mas levando a vida da personagem responder a questões hodiernas.

MODELO DE EXEGESE NUM TEXTO HISTÓRICO

Um dos problemas para o pregador é preparar um sermão em um texto histórico. Como fazer exegese em narrativa? Para discutir o processo de exegese em livros históricos, apresento um esboço de sermão que preguei num trabalho de jovens de uma igreja na região de Campinas. Após o esboço, mostrarei como este foi montado. A finalidade não é mostrar um sermão de minha autoria, mas sim como podemos transformar um texto histórico em uma mensagem contemporânea sem forçar a situação. Procuro mostrar qual o processo que uso. Não o descobri em livros, mas através do trabalho e da intuição. Vou repartir o método, mais do que mostrar um esboço que fiz.

Tempos atrás, a Universal lançou a campanha da “Espada de Gideão”. Com base na citação de Juízes 7.20 (“As três companhias tocaram as trombetas e despedaçaram os jarros. Empunhando as tochas com a mão esquerda e as trombetas com a direita, gritaram: ‘À espada, pelo SENHOR e por Gideão!’” – NVI), a IURD distribuiu espadas de plástico (custando R$ 1,00 nas lojas de Manaus, mas pelas quais se pedia a módica oferta de R$ 40,00) com que se podiam despedaçar as dificuldades da vida. Isto não é uma exegese. É um uso absolutamente inadequado do texto bíblico. O uso do texto histórico requer alguns cuidados na interpretação e na aplicação. Não se pode isolar o texto não apenas do seu contexto, mas da sua história e da sua cultura. Ele narra um momento histórico, que não pode ser alegorizado, no tocante ao seu entendimento. Isto é diferente de fazer a aplicação homilética. Repito: para entender o texto não se deve trazer o texto para o nosso tempo. Deve-se ir ao tempo do texto. Em muitos círculos de estudos bíblicos vemos uma atitude estranha. Lê-se o texto e se pergunta: “O que você acha?”. Não é esta a pergunta. É: “O que o texto mostra que aconteceu?”. Não se pode tornar o texto contemporâneo. Isto é diferente de ver aplicações para os nossos contemporâneos e de usar uma linguagem contemporânea. Mas deixe o texto na sua época. Veja aplicações para a nossa época. Mas deixe-o no passado.

Devemos usar de atenção e cautela, aqui. Há hoje uma pregação maciça no Antigo Testamento, mas esta é feita desconsiderando-se o ensino cristão de que o Novo Testamento é o parâmetro que interpreta o Antigo Testamento. Este tem sido usado sem exegese, apenas como suporte para práticas as mais esdrúxulas possíveis. Como se pode fazer uma boa exegese de um texto histórico? E como tornar algo do passado em algo válido para nós, sem perdermos o senso de respeito pelo texto bíblico? Porque muitas vezes se desrespeita o texto, fazendo-se com que ele diga o que queremos e não mostrando o que ele está dizendo. Tentaremos mostrar aqui, se não como fazer uma boa exegese, pelo menos como fazer uma que seja razoável, mas que não violente a Bíblia.

1REIS 17.1-7

UM MINISTRO SOFRIDO, PORÉM ABENÇOADO

INTRODUÇÃO

Elias aguça a imaginação. “Yah é El” (“Iahweh é Deus”). Ministério: 1Rs 17-19 e 21, e 2Rs 1-2. Esteve na transfiguração. Vinda prometida precedendo o Messias (Ml 4.5), designando outro grande vulto, o Batista (Mt 17.12-13). Símbolo dos profetas. Cálice de vinho sobre a mesa para ele, em solenidades judaicas, hoje. Três apocalipses atribuídos. Impressionou a mente dos judeus. “Os aparecimentos raros, súbitos e breves de Elias, sua coragem indômita e seu zelo ardente, o fulgor dos seus triunfos, o patético do seu desânimo, a glória do seu passamento e a tranqüila beleza de sua reaparição no Monte da Transfiguração, tornam-no um dos vultos mais grandiosos e românticos que Israel produziu” (Halley). Mas: Tg 5.17. Seu ministério e lições para nós. .

1. UM MINISTRO SOFRIDO, PORÉM ABENÇOADO, PRECISA TER CORAGEM – Enfrentou Acabe sem medo: 1Rs 18.15-19. Mais de uma vez: 1Reis 21.17-24. Enfrentou os 450 profetas de Baal, sem medo, dando-lhes, a prioridade: 1Rs 18.22-25. Muita confiança na direção de Deus. Lição: ousadia e confiança. Ministério não é para inseguros.

2. UM MINISTRO SOFRIDO, PORÉM ABENÇOADO, DEVE SER INTERCESSOR – Voltemos no tempo: 1Rs 17.17-21. Lembramos coragem e lutas. Intercessor. Orava pelas pessoas. Não pedia notoriedade, mas a glória de Deus: 1Rs 18.36-39. Descobri isto agora. Orava pelo meu ministério, minha atuação. Passei a orar pelo rebanho e me queixar menos dele. Jesus: “Roguei por ti…”. “Oro por eles…”. Amar o rebanho e orar por ele.

3. UM MINISTRO SOFRIDO, PORÉM ABENÇOADO, TAMBÉM TEM FRACASSOS – Após vitórias, medo: 1Rs 19.1-4. Consagrados estressam. Queixou de Deus: 1Rs 19.8-10, 13-14. Deus veio e o recuperou. Isto é graça. Ninguém é forte para prescindir dela. Nem falha tão feio que deixa de recebê-la. Paulo: 2Co 12.9-10. São a oportunidade de Deus. Não se deprima com fracassos. Aprenda deles.

4. UM MINISTRO SOFRIDO, PORÉM ABENÇOADO, É HONRADO POR DEUS – 2Rs 2.1,11. Só ele e Enoque tiveram a glória: não morrer. Deus o poupou e o levou para junto de si. Nós morreremos, a menos que Cristo volte em nossa vida. Mas seremos honrados por Deus, se tivermos uma vida de serviço: Ap 14.13. Teremos galardão: 2Co 5.10.

CONCLUSÃO – A grande lição de Elias: Deus vê nossa fidelidade, nosso serviço, nos socorre em nossas fraquezas e nos galardoa. Vale a pena ser fiel a Deus. Ministros humanos, falhos, mas apaixonados pelo Senhor, dependentes da graça. Não somos semidivinos. Humanos, falhos. Mas triunfamos na dependência de Deus!

OPBB – Bahia, jan/2008

OBSERVAÇÕES

1. A primeira coisa a se fazer na exegese de um texto histórico é delimitá-lo. Isto é, definir exatamente qual o trecho da história do personagem que vamos utilizar para subsidiar nossa mensagem. Sua história pode se estender por muitos capítulos. É necessário determinar que parte empregar. Não se podem ler dois ou três capítulos para uma mensagem. Até mesmo a exegese para uso pessoal, sem a preocupação de ensinar, se for feita num texto muito amplo, trará confusão. Limite o texto, portanto. Obviamente deve ser uma parte significativa, que lhe permita envolver e desenvolver as demais.

2. Se o texto for muito longo, não havendo possibilidade de delimitá-lo, use-se uma passagem que possa ser empregada como central ou como referencial, ao redor da qual toda a exegese orbite. Evite ficar desorientado. E evite desorientar o povo com uma leitura extensa.

3. No caso texto em tela, havia um pensamento completo. A exegese sempre obedece a um critério hermenêutico, mas quando ligada à confecção de uma mensagem, deve seguir uma linha que não pode ser ignorada: Qual é, exatamente, a mensagem central que aparece aqui? É o que, em Homilética, chamamos, no sermão, de propósitos geral e específico: o que queremos mostrar. A pergunta é esta: “No caso da exegese, o que, além do que o texto ensina, de forma global, desejo encontrar para ensinar ao povo?”. Não se trata de fazer o texto dizer o que queremos, mas de evitar detalhes desnecessários, de geografia, de cultura e explicações históricas que pouco acrescentarão. Algumas vezes esses detalhes enriquecem e elucidam, mas em outras (talvez a maioria) são perda de tempo. Seja atento! Há muita exegese inútil, cansativa, e até mesmo massacrante para o povo. Por isso muita gente acha que exegese é cansativa e que sermão expositivo é algo pesado. É preciso fazer a exegese limpa (sem direcionamento), mas também fazer uma exegese prática (o que observamos que será útil para o povo).

4. Especificamente aqui, subordinei à exegese a uma pergunta, produto de observação. A observação foi esta: Elias foi um ministro de Deus fiel e bem sucedido no trabalho. A linha de pensamento se manifestou numa pergunta: “Como ser um ministro assim?”. Muitas circunstâncias de sua vida tinham lugar no estudo. Mas eram circunstanciais. Um cuidado que se deve tomar na pregação é não priorizar o circunstancial sobre o essencial. É óbvio que, se está na Bíblia, tem razão de ser e deve ser analisado. Mas lembre-se: nós não ensinamos curiosidades, mas vivencialidade para o povo de Deus. Podemos achar que certos detalhes são curiosos, mas a questão é esta: “acrescentam alguma coisa à vida?”. Podem ser até atraentes, mas desviar a atenção do auditório para o secundário. Nossa preocupação não de ser a de mostrar erudição ou exibir nossas pesquisas, mas auxiliar o povo a se apropriar das promessas e advertências da Palavra de Deus.

5. Lido o texto várias vezes, a linha exegética foi esta: como um obreiro pode ser um ministro fiel? O texto de Tiago 5.17 foi utilizado para mostrar que Elias não foi um super-homem, mas um homem como nós. Por isto, podemos nos mirar nele. Isto é fundamental: a utilidade da exegese num texto histórico vai depender da capacidade do exegeta de mostrar princípios de vida daquela história que servem para a história das pessoas hoje. Se o exegeta falhar nisto, de nada vai adiantar o seu trabalho. Ensinará curiosidade e não vivencialidade. Efetuar exegese por exegese, sem busca de princípios para nossa vida, é desperdício de tempo. Ensinamos a Bíblia e não curiosidades da Bíblia, sempre vale a pena repetir.

6. Neste caso, a exegese foi elaborada em termos de procurar princípios de valor universal para aplicar hoje. Atenção: numa exegese encontramos princípios de valor relativo, temporários, e princípios de valor universal que transcendem tempos e épocas. O bom exegeta sabe ver os dois tipos, mas entende que os primeiros nada acrescentam à vida das pessoas. Por exemplo: se eu me centrasse nas roupas de Elias e sua indumentária, isto nada traria para meu auditório. Na realidade, isto não é nem mesmo um princípio. Mas serve como ilustração: é possível encontrar um princípio (ou material) que nada acrescente. Os princípios que servem para hoje foram encontrados e forneceram as três divisões do sermão. Mas eis um princípio cultural e limitado historicamente, que eu não posso usar: a ordem para matar os idólatras. Está lá como atitude de Elias, mas não pode ser a dos meus ouvintes. Isto foi um princípio relativo a uma época.

7. Na divisão dois, centrei-me em eventos na vida de Elias que serviam para meu auditório. Atenção: estas atitudes foram encontradas prestando atenção nas ações. Novamente um princípio de exegese que temos enfatizado: preste atenção nas ações, nos verbos, preste atenção em mudanças de atitudes, em atitudes mesmo, naquilo que os verbos estão mostrando. Lembre-se: verbos mostram ação. Substantivos mostram conteúdo. Adjetivos mostram emoções. Todos têm seu lugar e devem receber atenção. Estão dizendo alguma coisa. Quando analisar verbos, preste atenção no que está sendo feito. Há uma ação sendo desenvolvida. Quando se centrar nos substantivos, preste atenção naquilo que está sendo dito, na substância do evento. Quando lidar com os adjetivos procure ver o que as pessoas estavam sentindo ou atribuindo valor (ou Deus estava sentindo ou atribuindo valor). São categorias diferentes de palavras e categorias diferentes de valores.

8. Outra questão: não basta achar os princípios. É necessário torná-los contemporâneos aos ouvintes. Eles, os princípios, devem ser relevantes. Isto é fundamental. O texto registra uma história, a de Elias. Nós não devemos estudar o texto para pregar aquela história. Não pregamos Elias. Nós pregamos os valores daquela história e sua aplicabilidade ao nosso auditório. O Espírito Santo aplica as verdades da Palavra aos pecadores, cremos nisto. Mas o exegeta tem uma função e deve cumpri-la bem: ele cava verdades nas Escrituras e as torna claras, sem dubiedade, para seus ouvintes. Não podemos deixar dúvidas na mente do povo.

9. É preciso distinguir entre a verdade em si e o que a verdade ensina. Entre a simples presença, que é a forma, e o conteúdo que é o que está sendo mostrado. Neste segundo aspecto, há outro ensino a recolher: é preciso prestar atenção no que o personagem está dizendo. Nem sempre o que o personagem está dizendo é a palavra de Deus. Toda a Bíblia é a Palavra de Deus, mas os personagens podem estar expressando opinião pessoal. Um exemplo, fora deste texto: os amigos de Jó deixaram vários discursos ao longo do livro de Jó. Alguém pode pegar um texto deles e pregar. Mas corre um risco. Deus os censurou: “Depois que o SENHOR disse essas palavras a Jó, disse também a Elifaz, de Temã: “Estou indignado com você e com os seus dois amigos, pois vocês não falaram o que é certo a meu respeito, como fez meu servo Jó” (42.7, NVI). O exegeta pode estar trabalhando um texto que não expresse um bom ensino sobre Deus, ou uma teologia sadia. Outro exemplo: “sabemos que Deus não ouve a pecadores”, disse o ex-cego de nascença (João 9.31). Uma exegese aqui tem que ser bem criteriosa. Se Deus não ouve a pecadores, a quem ouve, então? Se não ouve a pecadores, de que nos vale orar? É preciso saber se o que está sendo dito é uma verdade linear, clara e objetiva, ou se traz algo oculto em si. Se o termo tem o significado a que estamos acostumados. Se a pessoa tinha credencial para dizer o que disse, etc. Evite a visão linear, simplista, principalmente num texto histórico. Tenha sempre em mente que um texto histórico não é teologia, mas narrativa. É a interpretação da história pelos autores bíblicos, e não um tratado teológico. Não elabore preceitos teológicos em textos históricos. Em outras palavras, não faça teologia em eventos históricos. Podemos ver as lições teológicas, mas fazer teologia é outra coisa. Elabore atitudes de vida. Como exegetas e ensinadores da Bíblia, buscamos os princípios na narrativa e os aplicamos à vida dos ouvintes.

UMA PALAVRA FINAL

O que vale a pena ser feito vale a pena ser bem feito. A pregação é a mais sublime tarefa que podemos desempenhar. Se cremos mesmo que a Bíblia é a Palavra de Deus e cremos mesmo que recebemos uma chamada de Deus para pregá-la aos homens, pregar bem deve ser um desafio para nós. O comodismo é incompatível com o caráter do pregador do evangelho e com a dignidade da pregação. Deve ser muito bem feita. Para isto devemos estudar sempre e buscar melhorar. E voltemos ao nosso tema: o púlpito contemporâneo deve ser bíblico, cristocêntrico, bem preparado e sério.

E se cremos que pregar o evangelho é glorificar a Deus, devemos fugir do estrelismo. Toda a glória deve ser de Deus. O lema de cada pregador sério deve ser o do Batista: “Que ele cresça e eu diminua”. Seja assim conosco.

1 PETERSEN, Eugene. Ânimo – o antídoto bíblico contra o tédio e a mediocridade. S. Paulo: Mundo Cristão, 2ª. ed., 2008, p. 107.

2 Aos interessados, recomendo a leitura de Apologética cristã no século XXI, de Alister McGrath, o chamado “intelectual de Oxford”, principalmente o tópico “A apologética é baseada na capacidade de Deus comunicar sobre si mesmo em linguagem humana”, a partir da página 31. O livro é da Editora Vida.

3 Sobre isto, veja a obra de Francis Schaeffer, He is there and He is not silent, Editora Logoi, Miami.

4 MACARTHUR JR.,John. Pense biblicamente: recuperando a visão cristã de mundo. S. Paulo: Hagnos, 2005.

5 PETERSEN, op. cit., p. 107.

6 GRAHAM, Billy. Mundo em chamas. Rio de Janeiro: Record, 1965, p. 15.